“Uma pessoa está em paz quando todas as pessoas que pertencem a sua família
tem lugar em seu coração” Bert Hellinger
Dentro do Sistema Familiar existe
uma dinâmica, comum à todas famílias, e que tem efeito muito forte e negativo:
A exclusão.
Na definição do dicionário temos:
Do latim exclusĭo, a exclusão é a
ação e o efeito de excluir -deixar alguém ou algo de lado, descartar, negar
possibilidades, segregação, em que há afastamento. Como exemplo temos: “ela foi alvo da exclusão dos colegas; Ele
não pode mais entrar no recinto e participar das celebrações pois foi
excomungado; exclusão social, política, financeira; João foi deserdado pelo pai
e não pôde receber a herança familiar; Pelo habito de beber em excesso ele foi
excluído da lista de convidados em festas familiares.”
Por vezes esta exclusão acontece
de forma consciente e intencional, mas em outras vezes ocorre de forma
inconsciente e inconsequente. Inconsequente pois não se tem real consciência de
como aquilo afetará a si mesmo, a estrutura familiar e mesmo campo social com
aquele gesto, postura e atitude.
Exemplos de exclusões no sistema
familiar: Não convidar determinado parente para uma festa por ele se mostrar
inconveniente, por ser “chato”, por ter comportamentos que não são bem vistos
pela família; Evitar ou mesmo negar contato com algum membro familiar por
opiniões e crenças divergentes à sua; Afastar determinado membro familiar por
ele ser alcoolista, usuário de drogas e/ou por apresentar determinado tipo de
doença e/ou condição física limitante; Expulsar um pai, mãe, filho ou filha de
sua propriedade e/ou negócio por opiniões divergentes, desapontamentos ou
conflitos recorrentes; Ignorar ou rejeitar a existência de determinado parente;
Ocultar certos membros ou historias familiares por vergonha, conflitos, magoas
anteriores; Hostilizar e rechaçar pessoas por sua aparência, escolhas, jeitos,
manifestações singulares; entre vários outros exemplos.
A exclusão causa tensão e
desequilíbrio no sistema familiar. Sobre tal assunto, tal pessoa, tal situação,
não se pode falar, conversar, opinar, refletir. Isto causa confusão, sentimentos
conflituosos, desavenças e divisões no núcleo familiar.
Sem falar a energia e investimento
psíquico gasto para manter “a coisa” afastada e excluída. Como Sigmund Freud
apontava na psicanalise, o material reprimido no inconsciente exerce grande
força sobre o sistema consciente pois quer constantemente voltar a ocupar seu
lugar de origem e, para mantê-lo distante o consciente utiliza de diversos artifícios,
recursos, defesas e energia para que o material fique suficientemente longe.
Quando mantenho algo segregado, separado, afastado, quanto de energia e tempo
gastamos para fazer isto?
Seguindo uma reflexão proposta
por Bert Hellinger:
“Tudo aquilo de que me lamento ou queixo, quero excluir. Tudo aquilo a
que aponto um dedo acusador, quero excluir. A toda a pessoa que desperte a
minha dor, estou a exclui-la. Cada situação em que me sinta culpado, estou a
exclui-la. E desta forma vou ficando cada vez mais empobrecido. O caminho
inverso seria: a tudo de que me queixo, fito e digo: sim, assim aconteceu e
integro-o em mim, com todo o desafio que para mim isso representa. E afirmo:
irei fazer algo com o que me aconteceu. Seja o que for que me tenha acontecido,
tomo-o como a uma fonte de força. É surpreendente o efeito que se pode observar
neste âmbito. Quando integro aquilo que antes tinha rejeitado, ou quando
integro aquilo que é doloroso para mim, ou que produz sentimento de culpa, ou o
que quer que me leve a sentir que estou a ser tratado de forma injusta, o que
quer que seja… quando tento incorporar tudo isso, nem tudo cabe em mim. Algo
fica do lado de fora. Ao consentir plenamente, somente a força é internalizada.
Todo o resto fica de fora sem me contaminar. Ao invés de infectar,
purifica-me.”
Desta forma o terapeuta Bert
Hellinger aponta para uma possível solução para a dinâmica da exclusão: a
aceitação e integração. Claro, sabemos que tal não é tarefa fácil. Por vezes necessita de um tempo
de maturação e preparação. Mas aceitar e integrar é uma forma de lidar com esta
dinâmica excludente que pode trazer muitos conflitos para nosso convívio e
trocas familiares. É algo que nos escapa do controle - respingando sobre
pessoas que nem fazemos ideia ou tenhamos intenção de afetar.
Fazem-se então algumas reflexões
e ações possíveis em relação à exclusão: Antes de mais nada é importante tomar
consciência em relação à dinâmica da exclusão em nossa vida. Alguns
questionamentos podem auxiliar nisto, como: Há em sua história familiar alguma temática
ou alguém que remeta à exclusão, segregação, expulsão? Sobre tal familiar não
falamos...sobre este assunto não conversamos...melhor não falar sobre isto pois
é incomodo e/ou perigoso? Alguém ou alguma história da qual se fala pouco, ou
não se fala, ou que causa silencio e tensão quando mencionado? Sobre o que se
trata e sobre quem se trata? Quais informações você tem disponível sobre isto?
Como você se sente, pessoalmente, em relação a isto? Como você acha que isto
mobiliza você, em seu corpo, pensamento, comportamento?
Verifique se você também tem uma
atitude de resistência, fuga ou exclusão em relação a isto. Perceba se lhe é
possível entrar em contato com tal situação e avaliar a mesma de outras
perspectivas. De outras formas. Com outros contextos.
O que acontece com você quando
você entra em contato com este tema e se ocupa dele? Você fica mais tenso ou
mais relaxado quando permite-se refletir e incluir este tema em seu dia a dia? Você
pode abordar este tema com alguém de sua família, permitindo uma reflexão
conjunta?
Se for possível, inclua em algum
momento de seu dia, a possibilidade de se ocupar com esta temática, pessoa(s)
e/ou situações. Verificando se com o tempo é possível, para você, aceitar a
situação, pessoa, evento, tal como este(a) é.
Aceitar, Incluir e seguir adiante
com respeito. Talvez, a partir de sua postura e atitude de aceitação e posterior
integração, muitos aspectos comecem a fluir e transformar-se à sua volta. E, talvez,
possa aliviar o percurso e história daqueles que vieram antes, e facilitar para
aqueles que estão porvir.
Lembrando que há diferenças entre
aceitar e concordar. Na postura de aceitação, digo sim ao que se mostra, como
se mostra e incluo. Posso até não concordar, mas não excluo de meu campo de
visão, da realidade, de minha vida ou consciência. Reconheço que existe e, que
é algo para qual tenho opiniões divergentes, diferentes, mas...respeito.
É uma postura que Bert Hellinger
sempre apontava em seus livros e treinamentos: Reconheça aquilo que se mostra, da
forma como se mostra, diga sim a isto e deixe atuar sobre você!
Esta postura abre. Esta postura
reconhece. Esta postura inclui. Esta postura transforma.
Fontes para pesquisa:
Reflexão desenvolvida a partir do
vídeo – Retrato de Família - https://youtu.be/dtPhmOL4vnE
Bert Hellinger - As Ordens do
Amor. Editora Cultrix
Bert Hellinger- A fonte não
precisa perguntar pelo caminho. Editora Atman
Bert Hellinger - A exclusão - http://aconstelacaofamiliar.blogspot.com/2014/02/tudo-aquilo-de-que-me-lamento-ou-queixo.html
René Schubert - Refletindo a
temática da exclusão no meio Familiar – Para plataforma Metaforum em 2019: https://metaforumbrasil.com.br/refletindo-a-tematica-da-exclusao-no-meio-familiar/
René Schubert - Refletindo a
temática da exclusão no meio Familiar – Para plataforma Movimento Sistêmico em
2019: https://www.movimentosistemico.com/post/refletindo-a-tem%C3%A1tica-da-exclus%C3%A3o-no-meio-familiar
René Schubert - Exclusão, o não que aprisiona. Maio 2020 - http://jornalzen.com.br/artigos-2/
René Schubert – Constelação
Familiar: impressa no corpo, na alma, no destino. Reino Editorial
Sigmund Freud – Cinco lições de
Psicanálise (1909). Editora Imago
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