"A reverência provoca uma mudança
na alma. Podemos sentir isso em nós quando curvamos levemente a cabeça. Que
movimento nasce então na alma? Algo emerge das profundezas, alcança a cabeça e
flui para a outra pessoa. É um movimento de respeito e de homenagem, que nos
liga a essa pessoa. Aparentemente, esse movimento nos torna pequenos. Na
verdade ele nos une à outra pessoa no mesmo nível humano. A reverência profunda
tem um efeito bem diferente. Nela eu me torno pequeno diante de alguém. Eu o
respeito e lhe digo: "Você é grande e eu sou pequeno.” Nessa reverência profunda
eu me abro para aquilo que essa realidade grande ou essa pessoa grande me dão.
Convém fazê-la diante de nossos pais e também diante dos mistérios da vida. Ela
permite que nosso coração se abra para o que nos é dado.Em seguida nos erguemos
e viramos, no sentido de que passaremos adiante o que recebemos. Fomos pequenos
ao receber, tornamo-nos grandes ao dar.
A reverência profunda é, portanto, uma
condição para transmitirmos a vida que nos foi dada – pois ela não nos
pertence, foi algo que recebemos. Então entramos na grande corrente da vida,
recebendo e transmitindo. Nisso somos iguais a todos os seres humanos. Existe
ainda uma reverência ainda mais profunda: nós nos ajoelhamos e nos curvamos
profundamente, com os braços estendidos para a frente e as palmas voltadas para
cima. Ela é um prolongamento da reverência profunda. Convém fazê-la quando nos
tornamos culpados em relação a alguém. Seu efeito é o de uma profunda súplica:
“Por favor, olhe para mim outra vez.” Com frequência devemos fazê-la aos nossos
pais quando cometemos alguma injustiça contra eles. Terá sido esse o gesto do
filho pródigo da parábola do Evangelho, ajoelhando-se diante de seu pai,
fazendo-lhe uma profunda reverência dizendo-lhe: “Já não sou digno de me
chamar seu filho. Por favor acolha-me como um de seus servos.” E qual foi o
efeito dessa profunda homenagem, dessa súplica do fundo da alma? O pai se
inclina para o filho, o levanta e abraça.
Esse seria, também, o gesto de um
perpetrador diante de sua vítima. Ele promove a reconciliação. E reconciliação,
nesse contexto, significa que o que ocorreu pode ser esquecido. Imagino que ela
ocorra principalmente no reino dos mortos, quando as vítimas e os perpetradores
finalmente jazem lado a lado. Então acontece a paz. Essa reverência ainda pode
ser reforçada, na medida em que a pessoa se prostra no chão e estende os braços
para a frente. Essa reverência, a mais profunda de todas, é indicada, às vezes,
diante de pessoas contra quem se cometeu uma injustiça muito grave. E devemos
fazê-la também diante de Deus ou do mistério que, sem conhece-lo, chamamos por
esse nome.Um outro tipo de reverência diante desse mistério consiste em nos
curvarmos profundamente abrindo os braços. Essa reverência ampla não tem um
caráter exclusivamente pessoal. Ela se faz em união com muitas outras pessoas.
Ela nos acalma, nos insere na comunidade humana e até mesmo nos faz
transcendê-la."
Bert Hellinger
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