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01/06/2016

Todas as Crianças são Boas e seus Pais também





"Não existem crianças difíceis. Existem sistemas difíceis, algo que, em suas famílias, está desordenado. A principal desordem em uma família é a exclusão ou o esquecimento de um de seus membros. O que faz, então, a criança difícil? Olha para os que estão excluídos ou esquecidos. Assim que estes esquecidos são reintegrados de forma visível, as crianças se sentem aliviadas.


Tenho observado, por exemplo, que as crianças super excitadas, essas crianças inquietas, olham para um morto que é ignorado pela família. Por isso pronunciei a frase que surpreende a muitos: “Todas as crianças são boas”. Isso pode ser demonstrado muito bem em uma constelação. A esta frase eu acrescentei algo mais: “Seus pais também” – como crianças, olhavam para alguém. Especialmente aqueles pais que consideramos difíceis são crianças que olham para alguém excluído. De fato, não estão disponíveis para seus filhos porque olham para essa pessoa esquecida.

O que é que importa, afinal, nesta constelação familiar no plano do espírito? Que cada um esteja em seu lugar, que aqueles que foram rejeitados sejam recebidos novamente. Assim, todos ficam aliviados.

Aqui está um exemplo. Veio me ver um instrutor que lida com crianças difíceis, especialmente aqueles que são expulsos da escola. Ele vem tentando reintegrá-los, com muito amor e com sucesso também. Um dia ele me chama e diz: “Meu filho mais novo se tornou tão agressivo que querem expulsá-lo da escola. O que faço?”. Aqui vemos como alguém com experiência no assunto e eficiente em seu trabalho é levado pelo destino. Não pelo seu próprio, mas pelo de alguém da sua família. Eu disse a ele: “Venha a um curso com toda a sua família”. Ele chegou com sua esposa e seus dois filhos.

Tenho sido instrutor durante anos, sei lidar com jovens. Conheço suas boas qualidades. Pois bem, a família se sentou ao meu lado. Olhei para eles e, em seguida, percebi que a mãe queria morrer. Por isso, a agressividade do filho. Eu disse a ela: “Quando te olho, vejo que você quer morrer”. “Sim, é verdade”, me responde ela.

Mas, por que ela quer morrer? Porque é uma boa menina, claro. Disse a ela: “Vou constelar primeiro sua mãe”. Não tratei diretamente o problema. Coloquei a mãe dela. Esta olhou em seguida para o chão, onde via um morto. Perguntei à senhora: “Para quem sua mãe olha? Ela quer se juntar a um morto”. A senhora disse: “Minha mãe tinha um amigo muito querido. Ele morreu em um acidente de carro”. Coloquei um representante para esse amigo. Foi possível ver que havia um grande amor entre ela e o morto. Ela foi atraída por ele. Eles se juntaram e se abraçaram. Então, o morto fechou os olhos e ficou em paz. A mãe da senhora voltou ao seu lugar e expirou profundamente.

Em seguida, coloquei a senhora na frente de sua mãe, e a mãe lhe disse: “Agora eu fico”. A senhora ficou feliz e as duas se abraçaram. Ficou claro que ela queria morrer no lugar de sua mãe. Neste instante, se apoiou de costas em sua mãe e sorriu. Na sequência, coloquei o filho de 14 anos na frente dela. Ela lhe disse: “Agora eu fico e vou ficar feliz se você ficar”. O filho se encheu de amor e se aconchegou junto a sua mãe. Com isso, tudo se ordenou. Em um instante ele se transformou em um bom menino.

As crianças difíceis são as crianças com o amor mais forte. Simplesmente, com freqüência, não sabemos para quem eles olham.

Agora, vou fazer com vocês uma meditação nesse sentido. Imagino que uns 20% de vocês foram crianças difíceis alguma vez. Baixei a porcentagem, por prudência. Sem dúvida, todos nós sabemos que nossos pais se preocupavam conosco. Talvez porque estivéssemos doentes ou porque nos comportamos de tal modo que eles pensavam: “O que acontece com essa criança?”.

Agora, fechem os olhos e viajem no tempo para o passado, para a época em que vocês eram crianças difíceis, doentes ou com pais preocupados. Olhem com amor para essa criança que vocês eram, e deixem que essa criança os leve pela mão. Para quem essa criança olha com amor? Talvez para quem a família não olha. Dizemos a esta pessoa: “Eu vejo você, com amor. Para mim, você pertence a nós”.

Talvez possamos virar para nossos pais e dizer-lhes: “Estou vendo alguém que amo. Por favor, olhe junto comigo para aí também”. A maioria de vocês têm filhos. Talvez um filho difícil, um filho que lhes dá preocupações, que talvez esteja doente ou se acidentou. Olhe para onde a criança olha – com amor.

Talvez ela olhe para uma criança abortada ou alguém que vocês rejeitaram, para alguém que, talvez, há várias gerações foi vítima de um crime dentro da família, por exemplo um crime de guerra. A criança olha aí. Ou, talvez, olhe para alguém que a família quer ignorar, por se sentir envergonhada, seja um delinqüente, um assassino, um criminoso de guerra talvez. A criança olha aí com amor, porque os outros se envergonham dessa pessoa. Mas, entretanto, ela pertence a essa família, tanto como todos os outros.

Nós também olhamos agora com amor para essa pessoa, com o amor do espírito que toma todos a seu serviço, tal como são, sem distinção, porque seu objetivo vai muito além do que podemos imaginar.
Vemos os efeitos e os sentimos em nós. E sentimos como uma criança consegue, talvez, se tranqüilizar e quão melhor ela fica."

Bert Hellinger - Revista Hellinger Sciencia, Março de 2007

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