Constelações utilizando figuras com clientes
individuais
por Jakob Schneider (Tradutor Rodrigo Diego Ramos)
As Constelações Familiares e Empresariais se
tornaram bem conhecidas como um trabalho de grupo. Este trabalho, assim como as
áreas afins do trabalho sistêmico orientado às soluções e da psicoterapia
fenomenológica, alcançou uma importância fundamental nas áreas psicossociais e
também em diversas abordagens da terapia individual.
Existem muitos terapeutas e facilitadores atuando
em situações que não permitem o trabalho de uma Constelação com grupos. Também
existem terapeutas que podem não se sentir confortáveis para trabalhar grupo.
Entretanto, muitos desses profissionais se sentem profundamente atraídos aos
conceitos e ferramentas implícitos no trabalho de Constelação e procuram por
maneiras de integrar essa abordagem em seus trabalhos individuais, de casais e
famílias, ou talvez até na supervisão de pequenos grupos. O trabalho de
Constelação com Figuras ou objetos proporciona um método simples e direto. As
figuras, representando um membro familiar ou pessoa significativa no sistema em
questão, são dispostas em uma mesa ou um espaço definido do local de trabalho.
As figuras
O que se segue é baseado na minha experiência
pessoal com Constelações com Figuras. Pouco após a minha primeira experiência
com as Constelações Familiares de Bert Hellinger e minhas primeiras tentativas
para trabalhar com esse método em grupos, eu peguei uma sacola com os
Playmobils do meu filho, que há tempos foram relegados ao porão de minha casa.
Eu comecei a carregá-los comigo para os lugares em que eu não tinha o apoio de
um grupo para os meus trabalhos de terapias e aconselhamentos. Dentre estes
lugares estão inclusos um centro de aconselhamento de famílias e casamentos,
uma clínica psicossomática, pequenos grupos de supervisão e minhas próprias
práticas privadas.
Eu estava compelido de alguma forma a proceder na
direção das Constelações. Após minha primeira experiência com Constelações
Familiares em grupo eu já estava certo que esse seria o “meu” método e a
“minha” maneira de fazer terapia, seja em grupos ou com indivíduos. Utilizar as
figuras Playmobil foi algo que aconteceu muito naturalmente, sem precisar de
muita consideração. Elas estavam disponíveis, eram práticas, fáceis de carregar
e possuíam poucas variações entre elas: simplesmente homens e mulheres em
várias combinações de cores.
Graças a Deus que eu não perguntei a ninguém sobre
isso neste período, de modo que me foi possível ganhar experiência com as
figuras sem nenhuma opinião ou objeção externa. Nessa época, eu não tinha
certeza de que ainda era possível comprar essas figuras Playmobil mais simples.
Entretanto, o tipo de figura utilizada não é terrivelmente importante. Existe
disponível no mercado, por exemplo, um “quadro familiar” com figuras de
madeira.
Contudo, existem alguns critérios que eu considero
importantes na escolha de suas figuras:
- Elas devem ser figuras com as quais o terapeuta possa trabalhar confortavelmente. Não se preocupe se os clientes irão aceitá-las. Se o método e as ferramentas estão certos para o terapeuta, os clientes quase certamente irão concordar;
- As figuras devem apresentar o mínimo possível de “personalidade”, diminuindo assim quaisquer preconceitos e distrações quanto ao não essencial. As figuras não são importantes em si, mas apenas uma projeção espacial dos membros do sistema.
Trabalhar com figuras é mais fácil se estas
permitirem algumas distinções básicas. Por exemplo: entre homem e mulher,
alguma forma de indicar a direção em que a figura olha, talvez cores ou alguma
marca que diferencie uma pessoa de outra. Usar figuras menores para representar
crianças pode ser uma distração uma vez que isso pode sugerir uma fixação
temporal na infância do elemento, removendo a característica “atemporal” do
trabalho de Constelações.
Experiências anteriores com grupos de Constelações
Eu trabalho principalmente com grupos e meu uso de
figuras em trabalhos individuais é baseado totalmente nos meus trabalhos de
Constelações em grupos. Eu não consigo me imaginar fazendo Constelações com
Figuras sem alguma experiência com Constelações em grupo. Eu acredito que é
necessário que um terapeuta possua experiências com Constelações em grupo para
trabalhar com Constelações com Figuras. Essa experiência não necessita ser a de
trabalhar em grupos diretamente como constelador. Eu recomendaria ao terapeuta
assistir a uma Constelação em grupo trabalhando uma questão sua, observar
trabalhos de Constelações Sistêmicas e vídeos de Constelações que dão algumas
impressões de como são as Constelações. Conheço terapeutas e facilitadores que
trabalham com figuras sem nunca terem trabalhado com um grupo de Constelação,
mas eu nunca soube de alguém que tentou trabalhar com figuras sem ter visto uma
Constelação em grupo.
Na próxima seção, entrarei em detalhes sobre quando
uma Constelação com Figuras é apropriada, como eu introduzo o método ao cliente
e como eu trabalho em uma sessão individual utilizando as Constelações com
Figuras. Em seguida, abordarei os riscos e oportunidades inerentes deste método
e, finalmente, tratarei sobre as Constelações com Figuras e o valor dessa
abordagem no trabalho de “alma”.
O lugar das Constelações com
Figuras na terapia
O
aconselhamento e a terapia dão suporte a processos que se movimentam para uma
solução. Tais processos podem aparecer em uma variedade de formas.
Primeiramente, existem problemas que podem ser
solucionados por mudanças no comportamento do cliente, através de aprendizado,
criatividade e espiritualidade. Neste caso a preocupação é, até certo ponto,
com algum tipo de atividade mental que libere o cliente de pensar e agir de maneiras
que bloqueiam a solução.
Há também a área dos traumas, as feridas profundas
que geralmente se relacionam com amores interrompidos, movimentos não
concluídos de aproximação à mãe, ao pai, outra pessoa importante ou até mesmo à
própria vida. Estas feridas traumáticas frequentemente nascem de experiências
da infância e podem ser resolvidas por um processo retroativo de cura da alma
entre a criança e aquilo que é essencial à sua vida.
Finalmente, existe uma vasta área de conexões e
liberações nos relacionamentos. Problemas podem aparecer em uma conexão
profunda de uma pessoa a um destino comum e suas consequências, primeiramente
dentro da sua família e das pessoas próximas a ela. A solução é encontrada
através de insights dentro das Ordens do Amor.
O trabalho de Constelações se foca nos processos de
conexões e liberações na alma. As soluções emergem através do olhar para todo o
sistema de relacionamentos. Todos no sistema possuem um direito igual de
pertencimento e deve ser permitido a todos ocupar o seu lugar de direito. Cada
um dos integrantes do sistema carrega seu próprio destino por conta própria,
evitando meter-se no destino alheio. Todos os membros do sistema devem permitir
que os acontecimentos do passado permaneçam realmente no passado. O trabalho de
Constelações se relaciona com vida e morte, boa e má sorte, saúde e doença,
sucesso ou fracasso nos relacionamentos, pertencimento e exclusão, dar e tomar,
recompensa e débito e também com autoafirmação como contraponto a ser apenas um
instrumento, sujeito às influências do sistema.
Em essência, existe um critério que indica quando
uma Constelação Familiar pode ser um método útil: sempre que existir algo na
“alma do grupo” que deseja ordem, paz ou conclusão; quando emaranhamentos estão
atrapalhando um processo de solução ou quando uma dificuldade no destino
familiar se mostra um fardo.
Procedimentos na Constelação com
Figuras
Muitos terapeutas e facilitadores desejarão
integrar as Constelações Familiares utilizando figuras com sua própria maneira
de trabalhar e com suas próprias orientações terapêuticas. Para mim, quando
existem problemas nas conexões e liberações, eu normalmente faço uma sessão na
qual o trabalho se concentra inteiramente na Constelação com Figuras. Existe,
entretanto, uma infinidade de maneiras disponíveis para trabalhar.
Existem certos elementos importantes ao proceder
com uma Constelação com Figuras. Assim como nas Constelações em grupo, é
essencial que, em uma sessão individual, a Constelação lide com uma questão
séria e que seja trazida pela energia do cliente. O terapeuta depende dessa
energia que leva à solução e também depende do “peso na alma” do cliente em
relação à questão trazida. Como um ponto de partida, perguntas sobre a natureza
do problema e sobre qual seria uma boa solução dão clareza e força, que são
cruciais ao sucesso de uma Constelação Familiar. O terapeuta e o cliente
necessitam saber desde o princípio onde direcionar suas energias. Ambos podem
sentir o movimento da “alma do grupo” que irá levar seus esforços a uma boa
solução.
Frequentemente, o problema real do cliente e a
força que pode influenciar positivamente o movimento à solução estão escondidos
no início de uma sessão individual. É então necessária uma condução no trabalho
das Constelações e no processo da alma que dá suporte a esse trabalho. Esta
condução deve ser curta, afastando distrações ou outros problemas não
essenciais, trazendo energia e atenção aos processos familiares fundamentais e
construindo a confiança no trabalho em conjunto (constelador e cliente). Eu
costumo comentar brevemente sobre a minha maneira de trabalhar, sobre
emaranhamentos nos sistemas familiares, crises nos relacionamentos e sobre o
que eu irei procurar na Constelação. Se eu já possuo alguma idéia de onde nosso
trabalho pode se encaminhar, eu posso contar uma ou mais histórias de outros
casos que são apropriadas ao trabalho em questão. Se eu não possuo nenhuma
sensação da direção de encaminhamento do trabalho, pode ser útil utilizar uma
variedade de exemplos curtos e prestar atenção às reações dos clientes.
Em uma Constelação, a base para um passo que leva a
uma solução é construída a partir de informações relevantes: os eventos mais
importantes na história familiar (da família atual e/ou da família de origem) e
os destinos dos familiares e pessoas próximas. Estas informações e a maneira
com que o cliente as expressa geralmente leva a um movimento profundo no
sistema de relacionamentos e também leva a um vislumbre do amor, do respeito e
dos emaranhamentos que atuam no sistema. Ou então você pode sentir
imediatamente qual informação possui força e qual não possui. Se algo
importante foi omitido ou se o cliente não possui alguma informação crucial.
Esta troca de informações é dialógica e ambos (o
cliente e o terapeuta) necessitam estar em contato com a “alma do grupo”. Este
processo reside no essencial e existe a serviço da solução, que pode ser
alcançada apenas com respeito e aceitação aos eventos e destinos envolvidos.
O núcleo do trabalho orientado à sistêmica é a
própria imagem da Constelação: encontrar a dinâmica do sistema de
relacionamentos (na verdade, se permitir ser tocado por esta dinâmica),
reorganizar as posições das figuras em uma “imagem da solução” e falando as
frases apropriadas para conexões e liberações.
Introduzindo as Constelações com
Figuras
Quando alguém já viu ou experimentou uma
Constelação Familiar em grupo ou conhece os livros ou vídeos de Bert Hellinger,
geralmente não se faz necessária uma introdução às Constelações com Figuras.
Você pode simplesmente pedir ao cliente que posicione seus membros familiares
utilizando as figuras. Nestes casos, assim como faço com pessoas que não
conhecem Constelações, eu utilizo como referência o trabalho de Constelações em
grupos e explico brevemente como ocorre uma Constelação dentro de um grupo.
Para mim, o trabalho fica mais simples se utilizo as figuras da mesma forma que
trabalharia com os representantes.
Após estabelecer uma conexão entre a Constelação
com Figuras e a Constelação em grupos, eu determino com o cliente quais pessoas
são (inicialmente) importantes para a Constelação e trago as figuras à mesa.
Então, eu peço ao cliente que posicione as figuras umas em relação às outras,
sem falar ou me explicar nada, de acordo com a sua imagem interna, sem
considerar qualquer ordem cronológica ou outra justificativa, mas apenas da
forma que ele se sinta bem. Na maioria das vezes o cliente “monta” a
Constelação sem nenhuma dificuldade.
Quando surge algum problema nesses passos iniciais,
eles geralmente não são diferentes do que acontece em um grupo. Talvez não seja
o momento certo para fazer uma Constelação pois o cliente ainda não está pronto
internamente, talvez o cliente não confie o suficiente no método ou no
terapeuta ou então o foco da Constelação para a questão trazida seja diferente
(por exemplo, na família de origem ao invés da família atual, ou vice-versa).
Isso revela uma das grandes desvantagens da terapia
individual quando comparada ao trabalho em grupo. Em um grupo, você pode
trabalhar primeiramente aqueles que estão prontos. Outros clientes, que podem
estar reticentes, indecisos ou em dúvida, acostumam-se vagarosamente ao
trabalho, assistindo os processos de outras Constelações ou atuando como
representantes no sistema familiar de outra pessoa. Eles podem dar o tempo necessário
aos seus processos internos.
Se o posicionamento das figuras se prova muito
difícil para o cliente, algumas vezes eu as coloco de acordo com o que sinto
como certo a partir da informação que tenho. Eu então peço ao cliente para
corrigir minha Constelação. Se você tem a impressão de que a Constelação foi
montada a partir de uma idéia ou se, de alguma forma, não corrobora a
informação dada, ou se todas as figuras estão alinhadas olhando para o cliente
(e não sua figura representada no sistema), você pode pedir ao cliente para
verificar a Constelação novamente.
A última dificuldade mencionada, as figuras
alinhadas olhando para o cliente, ocorre repetidamente em meus atendimentos,
mas é facilmente corrigida. Lembre ao cliente que ele(a) já está representado
por uma figura e que a Constelação tem de refletir os relacionamento de uma
pessoa com as outras da família.
Trabalhando com uma Constelação
com Figuras
Uma
Constelação com Figuras serve para revelar os emaranhamentos dos clientes no
seu sistema familiar e para tornar claras as conexões e soluções do sistema.
Permite ao indivíduo tomar o seu lugar apropriado na rede de relacionamentos,
uma posição que é possível tomar honrando e respeitando a ambos os pais. A
Constelação permite que a pessoa libere com amor, que veja o que é necessário
deixar ir em paz e que tome qualquer um que tenha sido excluído no sistema de
volta ao seu lugar de direito e em seu coração.
A dinâmica das conexões e soluções tem de ser
explicitada pelas Constelações com Figuras sem a ajuda dos sentimentos ou feedbacks
dos representantes, uma vez que as figuras não sentem e não falam. É tarefa do
terapeuta ou facilitador sentir o sistema e expressar os sentimentos que
refletem a dinâmica familiar. Naturalmente, você pode pedir ao cliente para ele
mesmo faça isso, o que algumas vezes resulta na experiência do “Aha!”. Em
minhas práticas, entretanto, os clientes geralmente estão cegos às dinâmicas
familiares fundamentais. Eles trazem um entendimento inconsciente do processo,
do contrário eles não poderiam montar a Constelação de maneira apropriada e o
terapeuta não conseguiria “sentir” o sistema, mas esse conhecimento
inconsciente é velado. A tarefa do terapeuta, como observador externo, é ajudar
a “alma do grupo” do cliente abrir-se de forma que aquilo que está escondido
seja revelado e dito abertamente.
Desde o princípio, eu apresento o conceito de
Constelação em grupo como nosso ideal de trabalho e baseio meus comentários
sobre dinâmicas familiares no processo em grupo. Como um observador externo, eu
falo de meus sentimentos e sensações no papel de cada membro familiar em sua
posição apresentada. Isto é, eu não afirmo sobre como os membros familiares se
sentem em certa posição, mas sim do que os representantes destes membros
provavelmente sentiriam. Eu faço isso porque desta forma o cliente possui algum
distanciamento da sua experiência dominante com os membros de sua família e
porque isso dá ao cliente e a mim mais liberdade para experimentar e tomar o
que puder ser visto na Constelação. Também me facilita quando for necessário
corrigir o que foi dito e circundar resistências. Se o que digo sobre a
dinâmica familiar e os sentimentos dos representantes tem ressonância e toca
algo profundamente, o cliente estará em contato com sua família em um transe de
maior ou menor intensidade.
Enquanto falo, eu presto atenção às reações do
cliente. Algumas vezes eu pergunto se minhas sensações parecem corretas e se
fazem sentido ao cliente. Quando eu tenho sucesso em sentir o sistema e suas
dinâmicas, o cliente está “ganho” e geralmente nada mais irá ficar no caminho
do trabalho em direção a uma boa solução. Muito frequentemente um cliente me
pergunta estupefato: “Como você sabia disso?”.
Na próxima etapa, eu continuo trabalhando com as figuras
assim como faria em uma Constelação em grupo. Então mudo as posições das
figuras e digo em voz alta as mudanças que ocorrem nas dinâmicas e sensações,
até que consigamos ver aquilo que está tentando se revelar. Eu continuo desta
forma até nós chegarmos a uma imagem da solução. Quando eu estou certo, por
conta de meus próprios sentimentos ao ser tocado e também os sentimentos do
cliente, eu simplesmente fico com aquilo que emerge e digo ao cliente. Se eu
não sinto certeza, eu interrompo o processo e pergunto o que o cliente sente,
em relação a si mesmo e aos membros de sua família ao olhar para os movimentos
das figuras. Eu peço mais informações ou tento posições diferentes das figuras
para determinar qual parece ser a mais correta. Eu continuo até que a dinâmica
e a solução são reveladas de maneira suficientemente clara.
Eu peço ao cliente sentir a posição da solução e me
contar como é essa sensação. Eu observo para averiguar se esse lugar traz
alívio ao cliente e se parece curar, solucionar ou tranquilizar. Algumas vezes,
eu paro a Constelação com Figuras neste ponto.
Eu geralmente faço uso de frases de solução que
podem ser faladas em Constelações em grupo quando o cliente substitui seu
representante na Constelação, ou uma frase que o representante pode falar
diretamente ao cliente. Eu faço isso quando o cliente está com dificuldades em
tomar o seu novo lugar no sistema, quando a solução que encontramos ainda não
“assentou” ou parece necessitar de mais aprofundamento ou elucidação.
Frequentemente, a parte mais importante do processo
em uma Constelação com Figuras – assim como nas Constelações em grupo – é ser
tocado pelas frases que revelam a profundidade das conexões e ser tocado,
também, pelo alívio e a liberação das frases de força. Muitas vezes eu peço ao
cliente falar as palavras apropriadas, internamente ou em voz alta, e imaginar
ou até mesmo fazer alguns gestos como, por exemplo, o movimento de se curvar em
reverência.
Caso eu não sinta meu caminho dentre as dinâmicas
do sistema, se eu não tenho nenhum sentimento pelos membros familiares
representados pelas figuras ou pelas dinâmicas apresentadas, ou se o cliente
permanece indiferente à minha “imagem” da rede de relacionamentos, então eu
interrompo o processo de Constelação e busco mais informações, conto histórias
curtas ou simplesmente interrompo o trabalho.
Riscos e oportunidades nas
Constelações com Figuras
Os perigos e equívocos que podem ser feitos durante
a execução de uma Constelação com Figuras são basicamente os mesmos presentes
ao constelar com grupos:
- Trabalhar sem o cliente estar realmente pronto para a Constelação ou trabalhar sem a força do cliente;
- Seguir um padrão pré-determinado que não permita que nada novo e diferente surja;
- Trabalhar com muita informação ou faltando alguma informação crucial;
- Ser influenciado por padrões visuais ou associações que não encontram harmonia na alma.
A principal deficiência das Constelações com
Figuras, comparada com uma Constelação em grupo, é que não é possível a um
terapeuta entrar em contato com as dinâmicas do sistema através das declarações
dos representantes. Em casos difíceis, com dinâmicas novas ou incomuns, isso é
crucial. Por exemplo, se uma pessoa em um sistema é atraída a sair em favor de
outro membro, isso geralmente não se mostra de maneira clara na Constelação. É
na fala dos representantes que esse tipo de dinâmica pode ser evidenciada. Se
um terapeuta suspeita de algo desse tipo, é mais fácil de verificar em um
grupo. A energia e a participação dos membros do grupo observando a Constelação
também dão indicações importantes sobre a precisão dessas hipóteses.
Essas dificuldades, entretanto, não são críticas.
As dinâmicas da “alma de grupo” do cliente não são reveladas pelos
representantes, mas sim pela própria alma do cliente. Em um atendimento
individual também é possível sentir força quando uma hipótese traz algo
essencial à luz.
O último critério é uma sensação de harmonia e a
sensação de ambos, o terapeuta e o cliente, serem tocados. Isso pode ser muito
surpreendente em uma Constelação com Figuras. O terapeuta vê a solução através
de uma compreensão direta do cliente. Compreensão significa tomar aquilo que
emerge das profundezas. A antiga palavra grega para “verdade” significa aquilo
que não está oculto da visão. Aquilo que se desemaranha e é solucionado,
geralmente vem de maneira inesperada e silenciosa. Nos toca, serve à paz e
favorece o movimento. Honra e é benéfica a todos do sistema.
Constelações com Figuras também são uma
oportunidade de trabalho para terapeutas ou facilitadores que não se sentem
competentes para lidar com processos em grupo. Um grupo de Constelação pode
tomar uma dinâmica própria, que não serve ao sistema do cliente, se este grupo
não possuir visão, percepção precisa e o terapeuta não possuir certa capacidade
de liderança. Uma Constelação com Figuras também evita o perigo de
representantes trazerem seus próprios problemas pessoais à Constelação. O preço
para o controle dos fatores citados é que, concomitantemente, existe menos
controle sobre os preconceitos e “pontos cegos” do próprio terapeuta e, em uma
prática individual, um terapeuta pode ser mais vulnerável aos caprichos do
cliente (algumas vezes de maneira considerável).
Constelações com Figuras e o
Trabalho da Alma
Em Constelações em grupo, aqueles que são posicionados
na Constelação estão em ressonância com a alma do sistema. Figuras não
conseguem fazer isso. Elas permanecem objetos representativos cuja função é a
visualização. Você não precisa pedir a uma figura para sair de seu papel ao
final da Constelação.
Constelações com Figuras podem ser limitadas a uma
representação visual, que é como trabalhei em meus primeiros anos. As figuras
providenciam uma ponte visual, uma descrição gráfica do que está em discussão,
um método que talvez permita sugestões indiretas. Tudo isso pode ser muito
útil, mas uma Constelação pode oferecer mais. É incrível como ela estabelece um
espaço para alma onde a “alma do grupo” pode ter ressonância. Essa ressonância
é transferida ao terapeuta e ao cliente.
O trabalho de Constelações não se trata apenas de
trabalhar com imagens visuais. Ele nos toca profundamente e nos comove porque
dá dimensão a essas imagens. Imagens espaciais são diferentes de imagens
bidimensionais planas, não apenas em evidenciar a correta dimensão dos
relacionamentos mas principalmente porque permitem que algo surja através da
imagem. Aquilo que se mostra é algo difícil de descrever e não é visível ao se
olhar apenas para a imagem. O que surge é um campo de ressonância.
A ressonância do cliente e do terapeuta com a “alma
de grupo” e suas dinâmicas não vem das figuras, mas através delas. Ao mesmo
tempo, a Constelação com Figuras dá suporte ao processo terapêutico que é
externalizado e se afasta de pensamentos internos e idéias. O processo se situa
mais próximo da realidade do que simplesmente quando o cliente e o terapeuta
“falam sobre o assunto”.
A profundidade surpreendente da sensação de ser
tocado não vem somente da Constelação. A “ressonância” é também algo conectado
por palavras: palavras que refletem verdades básicas, palavras que esclarecem,
palavras de conexão e “desemaranhamento”, palavras de amor e de força. As
experiências profundas e comoventes também surgem de gestos, uma expressão
física dos movimentos da alma.
Trabalhar com figuras tem um efeito profundo apenas
quando é considerada além dos aspectos visuais e vai ao campo da rede de
relacionamentos, quando é permitida que a força desse campo penetre e revele os
gestos e palavras de cura e solução.
O valor das Constelações com
Figuras como um método
Qualquer um que está convencido da profundidade de
alcance dos processos em sistemas familiares e na alma pode, é claro, trabalhar
a caminho das soluções sem Constelações, grupos ou figuras. Apenas através da
consciência de fatos e eventos essenciais e permanecendo em harmonia com a alma
da pessoa que solicita ajuda em suas questões. Entretanto, tais métodos
normalmente facilitam o trabalho do terapeuta e também dão ao cliente acesso ao
que é essencial e crucial.
Os processos de Constelações coletam informações,
estruturam os processos e focam a atenção. Ao usar as Constelações, é mais
fácil para o cliente e o terapeuta experimentar uma jornada, abertos ao que
emergir das profundezas. Eles se juntam em um espaço na alma do cliente, apenas
pelo período necessário, para encontrarem uma solução. Em uma Constelação com
Figuras e na imagem da solução o cliente experimenta algo que pode ser levado
para casa – algo que continua a trabalhar na sua alma e frequentemente se
desdobra em sua potencialidade apenas após certo período.
Talvez seja algo análogo a uma performance de
teatro. Apenas ler a peça pode me deixar enfeitiçado, mas a performance no
teatro é geralmente uma experiência mais profunda e impressionante. Isto é
verdade, entretanto, somente quando a performance se mantém fiel à essência da
peça, à realidade e à uma transformação da audiência.
·
Título Original: Using
Figures for Family Constellations with Individual Clients
·
Autor: Jakob
R. Schneider
·
Tradutor:
Rodrigo Diego Ramos
·
Fonte: www.constellationset.com/pdf/schneider.pdf / http://www.constelacoessistemicas.psc.br/textos/constelacoes-utilizando-figuras-tipo-playmobil
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Publicado
originalmente em: Weber, Gunthard (Ed.) (2000): Praxis
des Familien-Stellens. Beiträge zu Systemischen Lösungen nach Bert
Hellinger. Heidelberg
(Carl- Auer-Systeme)
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