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21/05/2017

Reportagem: Constelação Familiar

A chamada Constelação Familiar foi desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger e é amplamente utilizada na saúde e nos meios terapêuticos ( médicos, psicoterapeutas, fisioterapeutas, nutricionistas, etc) assim como na Consultoria de Organizações /Coaching Sistêmico/Orientação Vocacional e nas áreas do ensino e educação - nos países da Europa, na Ásia, América do Norte e América Latina.

A aplicação deste método fenomenológico-sistêmico no campo do Judiciário foi desenvolvida no Brasil pelo Juiz Sami Storch. Hoje há diversos profissionais do direito envolvidos e desenvolvendo, ampliando as técnicas e teorias da Constelação Familiar para a resolução de conflitos no Brasil.

Original: TV Globo - Programa Fantástico de 14/05/2017 - A Ideia é humanizar a Justiça.Técnicas de terapias alternativas são usadas para facilitar a mediação de conflitos. A reportagem especial mostra como tribunais brasileiros estão usando técnicas de terapias alternativas para facilitar a mediação de conflitos, principalmente na Vara de Família, em questões como pensão e guarda de filhos. A ideia é humanizar a Justiça. Veja o que é e como funciona a chamada “Constelação Familiar”.

13/05/2017

O dia em que minha mãe faleceu...





"The day my mother died I wrote in my journal, "A serious misfortune of my life has arrived." I suffered for more than one year after the passing away of my mother. But one night, in the highlands of Vietnam, I was sleeping in the hut in my hermitage. I dreamed of my mother. I saw myself sitting with her, and we were having a wonderful talk. She looked young and beautiful, her hair flowing down. It was so pleasant to sit there and talk to her as if she had never died. When I woke up it was about two in the morning, and I felt very strongly that I had never lost my mother. The impression that my mother was still with me was very clear. I understood then that the idea of having lost my mother was just an idea. It was obvious in that moment that my mother is always alive in me.

I opened the door and went outside. The entire hillside was bathed in moonlight. It was a hill covered with tea plants, and my hut was set behind the temple halfway up. Walking slowly in the moonlight through the rows of tea plants, I noticed my mother was still with me. She was the moonlight caressing me as she had done so often, very tender, very sweet... wonderful! Each time my feet touched the earth I knew my mother was there with me. I knew this body was not mine but a living continuation of my mother and my father and my grandparents and great-grandparents. Of all my ancestors. Those feet that I saw as "my" feet were actually "our" feet. Together my mother and I were leaving footprints in the damp soil.

From that moment on, the idea that I had lost my mother no longer existed. All I had to do was look at the palm of my hand, feel the breeze on my face or the earth under my feet to remember that my mother is always with me, available at any time."

  Thich Nhat Hanh, in "No Death, No Fear”.

"O dia em que minha mãe morreu eu escrevi em meu jornal: "Um grave infortúnio chegou à minha vida". Eu sofri por mais de um ano após o falecimento de minha mãe. Mas uma noite,  nos planaltos do Vietnã, eu estava dormindo na cabana em meu eremitério. Sonhei com minha mãe. Eu via a mim mesmo sentado com ela e nós tivemos uma conversa maravilhosa. Ela parecia jovem e bela, seu cabelo fluindo para baixo. Foi tão agradável sentar lá e conversar com ela como se ela não houvesse morrido. Quando eu acordei eram aproximadamente duas horas da manhã e me senti forte como se nunca houvesse perdido minha mãe. A impressão de que minha mãe ainda estava comigo era muito clara. Compreendi então que a ideia de ter perdido minha mãe era apenas uma ideia. Era óbvio para mim naquele momento que minha mãe sempre esteve viva em mim. 

Abri a porta e fui para fora. Toda encosta estava banhada na luz da lua. era uma colina coberta com plantas de chá, e minha cabana estava posicionada detrás de um templo, até a metade deste. caminhando vagarosamente na luz da lua pela fileiras de plantas de chá percebi, que minha mãe ainda estava comigo. Ela era a luz da lua  me acariciando como ela havia feito tantas vezes, de forma muito delicada, doce...maravilhoso! Toda vez que meu pé tocava a terra eu sabia que minha mãe estava comigo. Eu sabia que este corpo não era meu mas sim a vivida continuação de minha mãe e de meu pai, de meus avós, e de meu bisavós. De todos meus ancestrais. Este pé que eu via como "Meu" pé era na realidade "nosso" pé. Juntas minha mãe e eu estávamos deixando pegada no solo úmido.

Deste momento em diante aquela ideia de que eu havia perdido minha mãe não existia mais. Tudo o que eu precisava fazer era olhar para a palma de minha mãe, sentir a brisa em minha face ou o chão no qual pisava para lembrar que minha mãe sempre estava comigo, disponível a qualquer momento."

Texto de Thich Nhat Hanh, no " Sem morte, Sem medo"

Tradução livre do inglês por René Schubert

06/05/2017

Lealdades invisíveis e a auto-sabotagem

O conceito de lealdades invisiveis explicado por um terapeuta e facilitador de constelação familiar norte americano, Shavasti.

Este conceito é fundamental para aqueles que atuam no campo terapeutico, social, educacional, mediação e remete às teorias de Ivan Boszormenyi Nagy - Lealdades parentais invisíveis.

Shavasti complementa a reflexão apontando para a dinâmica de auto sabotagem, tão comum e tão humana, ligada às lealdades parentais invisíveis. Como apontado por Bert Hellinger, as crianças são boas, fazem tudo pelos pais, sacrificam-se, a serviço de seu sistema..."Não existem crianças difíceis. Existem sistemas difíceis, algo que, em suas famílias, está desordenado. A principal desordem em uma família é a exclusão ou o esquecimento de um de seus membros. O que faz, então, a criança difícil? Olha para os que estão excluídos ou esquecidos. Assim que estes esquecidos são reintegrados de forma visível, as crianças se sentem aliviadas."

Agradeço a Shavasti pela gentileza em disponibilizar o material para publicação e tradução em português!





Lealdades invisíveis e a auto sabotagem – Todo mundo tem lealdades invisíveis?
Por Shavasti

“Entrevistadora: Me fale um pouco sobre as Lealdade Invisíveis. Nós falamos um pouco sobre este assunto antes, e estou curiosa, todo mundo tem lealdades invisíveis?
Shavasti:  Sim, na verdade sim. Todos nos temos. para mim as lealdades invisíveis são um assunto tão importante. Temos lealdade com sistemas de crenças, com nossos irmãos, com nossos membros familiares (..) para com nossa religião, para com nossa tribo, para com nossa nação, para com nossos avós, para tantas coisas diferentes, temos lealdade para grupos de pessoas que nem mesmo sabemos. Então isto começa com nossa habilidade de ser mais felizes do que àqueles que nos deram a vida. Estamos aptos para dizer:  “Mamãe me abençoe para que eu seja corajoso e seja mais feliz que você”. “Papai por favor sorria para mim, caso eu tenha coragem de ter mais do que você teve.” Então o que acontece quando você cresce em uma família e seu irmão ou irmã, tem uma deficiência, você é capaz de ter e ser  e fazer mais do que eles?  Mais do que seus irmãos? Você se atreve a ser mais feliz que estes indivíduos? E se seus ancestrais foram perseguidos, e se foram escravizados? Você é capaz de dizer a seus ancestrais: “por favor me abençoem para que eu tenha a coragem para tentar e ser mais feliz que vocês!”.  Ou você precisa ser leal ao sofrimento? E se seus avos sobreviveram ao holocausto, ou fugiram dos programas russos. E se você tem um sangue indígena e veem de uma nação que foi colonizada.  E se você vem do chamado Novo Mundo. E se você vier da Argentina ou  Nova Zelândia ou Austrália ou Canada ou Estados Unidos.  Uma destas nações onde os povos indígenas foram massacrados ou foram marginalizados ou foram apagados do mapa por causa das doenças e ônus que vieram junto, ou simplesmente assassinados. E se você provêm de uma nação destas? Você se permite ter tudo e deixar sua magnificência brilhar levando em conta o que aconteceu antes?  Isto pode ser igualmente verdadeiro se você é o neto ou descendente de um perpetrador, ou a vítima deste! Em meu trabalho com indivíduos, por muitos anos fazendo curas ancestrais e utilizando as Constelações familiares, observei que isto não faz nenhuma diferença. Se você é descendente do dono dos escravos você como que sabota seu próprio sucesso, por meio de alcoolismo, por problemas financeiros, pelo consumo de drogas ou ate mesmo por suicídio, da mesma forma como se você fosse descendente dos escravos.  De fato, o descendente dos escravos ou dos colonizados, ou o descendente do dono de escravos e dos colonizadores, compartilham um destino muito similar.  Quem carrega um peso maior? O bisneto de alguém que trabalhou em Auschwitz ou o bisneto de daquele que sobreviveu a Auschwitz? Quem carrega o maior peso? Em minha experiência o peso é igualmente grande. Fazer esta declaração pode me trazer muitos problemas, pois muitas pessoas estão focados em fazer a vitima muito mais importante que o perpetrador. Mas o que estou dizendo aqui, as consequências (os efeitos a posteriori) são realmente...exponenciais. O que acontece com a alma de uma nação que perpetrou tais atos hediondos contra outros seres humanos? O que acontece com a alma da nação colonizadora que cometeu isto com as povos indígenas? Conseguimos ver seus efeitos nos britânicos, muito frequentemente os britânicos tem a tendência de desculpar-se, por tudo, até por sua própria existência, vemos isto o tempo todo, com nações perpetradoras, e o que também vemos é que nações perpetradoras uma vez foram vítimas e foram escravizadas. Então o império romano gerou o império francês, o império britânico, o império holandês, o império espanhol e assim o ciclo seguiu adiante. O ciclo só para quando percebemos nossa própria lealdade. Então, e se você foi a criança que conseguiu sair? E se você foi a criança que fugiu? Você foi criado na pobreza e foi capaz de escalar fora do gueto? Então você pode ter todo sucesso do mundo, mas lhe faltam os relacionamentos íntimos e amorosos. Pode ter relacionamentos íntimos e amorosos, mas lhe falta saúde física. Então sempre vai haver uma área de falta que nós não nos permitimos. Eu não me permito a ter tudo porque minha irmã foi deixada para trás no gueto... meu irmão está internado na clínica psiquiátrica...meus pais sofreram tanto para me dar o que tenho, não terei mais do que eles, não serei mais feliz que eles...eu posso não ter o amor de minha vida pois o marido de minha mãe morreu ou a minha mãe ficou tão desapontada com seu marido e por lealdade a ela eu terei menos...terei todo dinheiro, mas não o marido...terei a grande carreira, mas não terei os filhos. E assim, nós nos limitamos, por lealdades que de alguma forma compensam as desonras e desrespeito àqueles que as sofreram. Isto é o que acontece. Por isso cabe a nós olhar para o que é realmente necessário. Quando somos leais ao sofrimento dos outros, o que acontece? Simplesmente se torna em mais sofrimento. E como isto para? Quando somos leais, vamos dizer, ao ódio de uma família, o que isto significa? Assim gerações de pessoas podem crescer odiando outo grupo de pessoas por nenhum outro motivo a não ser...foi o que os pais fizeram, e os avôs fizeram, e os bisavôs fizeram antes destes...vimos isto na Europa entre católicos e protestantes, vimos isto entre cristãos e muçulmanos, entre pessoas negras e pessoas brancas, vimos isto com todos tipos de grupos pessoas. Nos vemos todas estas divisões onde o ódio é simplesmente herdado, sem ser questionado. E este é o elemento destrutivo da lealdade. E isto é muito claro e obvio para muitas pessoas verem...Ei, eu estou caindo no ódio de meus pais e avós, entre, por exemplo vamos dizer Sérvios e Croatas ou entre Cristãos e Mulçumanos e meu povo e os negros, há todos tipos de grupos que tem ódio um contra o outro. Eu não estou falando de todos os cristãos ou todos os muçulmanos, mas internamente a estes há aqueles grupos que perpetuam este ódio automático em direção à estas outras pessoas. Você sabe, não, não conversamos com as pessoas de olhos azuis...não, não...nós não o fazemos...eles são da tribo do pé esquerdo, não não falamos com eles... mesmo não sabendo quem eles são. Em alguns níveis (de consciência) isto é bastante obvio que este tipo de lealdade é destrutiva e não é saudável, mas do que eu estou falando realmente aqui são as lealdade da criança para com seus pais. O porquê do que está embrulhado nisto. Se eu sou leal à tristeza de minha mãe, ou à sua depressão e me torno triste e deprimido exatamente como ela de uma forma muito distorcida, estou próximo a ela e existe então a esperança de que alcançarei o que queria. Me Fundir, ser trazido para dentro de seu coração, ter a experiência de estar fundido ao amor dela. Se eu sou leal à raiva de meu pai, para com estas pessoas ou aquela pessoa, então me torno próximo a ele. E assim podemos nos tornar muito leais ao sofrimento de pai e de mãe, dos avós e de todos os nossos ancestrais e, o que acontece se você vem de um grupo marginalizado de pessoas, vamos dizer, você é de uma minoridade étnica, nós podemos ser leais ao gueto. Em alguns círculos, as pessoas podem ficar chocadas com seu sucesso, com sua magnificência porque então, bem, você está imitando aqueles que nos oprimiram, pois você se lembra que eles eram aqueles que detinham todo poder e dinheiro...assim se você for atrás de dinheiro e poder ou àquelas coisas que lembram dinheiro e poder então você está tentando ser como “eles”, você é um “deles” agora. Em muitos países onde pessoas negras ou mulatas são minorias, estes termos pejorativos (depreciativos) como “oh você é um Coco, branco por dentro e marrom por fora” é ridículo! Então trata-se aqui de Lealdade, qual lealdade é saudável e qual não o é. Toda lealdade que diminuir quem você é e que restringe aquilo que você pode vir a ser, restringe sua própria magnificência, restringe sua energia vital, isto não é saudável! Muito disto pode ser simplesmente: Ser leal às necessidades de um dos pais. Eu escutei tantas vezes pessoas descrevendo sua mãe ou seu pai como seu melhor amigo. E a pergunta é, a amizade é saudável? Porque se este é seu melhor amigo então você não tem uma mãe. E o que eu muitas vezes encontro é lealdade à infelicidade dele ou dela (pai / mãe) e isto restringe muitas, muitas coisas. Assim nós teremos uma boa carreira, mas não relacionamentos afetivos ou temos o relacionamento afetivo mas não a saúde. E estas são algumas das principais áreas: saúde, riqueza, felicidade, amor e nós iremos apanhar uma destas e colocar para fora porque não podemos ter mais que ela, mais que ele ou mais do que aqueles ancestrais. Veja quantos tiveram que sofrer para que eu pudesse prosperar. Bem, este é exatamente o ponto, você está prosperando porque destino é um quadro, perspectiva, muito maior. Todos nós, cada um de nós, está vivo pois estes grandes movimentos do destino criaram as circunstancias de nossa vida. Desta forma se você é um indivíduo mestiço este grande destino de guerras entre nações e colonização levaram ao que você é.  E se você disser não para tudo isto, é uma negação ao que você mesmo é. Eu mesmo, venho de heranças mistas, eu sou um produto da roda do destino e sim, outros sofreram por causa disto. Portanto se eu minimizar minha vida e obscurecer minha luz por causa deste sofrimento passado por outros, então isto fará com que todos estes movimentos, toda esta sobrevivência alcançada, ser por nada, a toa. Eu sei, da profundidade de meu Ser, que meus ancestrais queriam que eu prosperasse apesar de tudo aquilo pelo qual tiveram que passar. Não queriam que eu sofresse por honra a eles. Isto é uma honra deslocada. Na verdade é bastante arrogante que nós nos tornemos tão importantes assim. Tenho muito mais a dizer sobre isto. Muito obrigado.”

Original: Hidden loyalties and self-sabotage – Does everybody have hidden loyalties? 
By Shavasti Teachings 

Tradução do inglês para o português: René Schubert



03/05/2017

Nós, inseridos e mergulhados em nossa historia...




"Uma criança, ao nascer, não é uma tabula rasa: nasce com muita história, se insere no campo de vida de sua família e é capaz de perceber e sentir nele, sem nenhuma consciência disso, toda a rede de energias que está ao redor dessa atmosfera, nesse espaço que poderíamos chamar de "alma familiar", "mente sistêmica" ou "campo de ressonâncias afetivas". E dessa alma, dessa rede, a criança recebe influências e vivências, tanto aspectos positivos que lhe dão força e a impulsionam a prosperar como aspectos negativos, vivências que não foram resolvidas na época certa e que a enfraquecem ou depreciam. Por isso digo que, quando dois se unem, unem-se muitos outros juntos: todos os membros dos sistemas de ambos, como uma grande assembleia.

A conquista mais profunda se dá quando cada membro do casal consegue aceitar a si mesmo com toda a sua história e seu sistema de precedência, e também ao outro, com todo o seu sistema, assentindo ao todo de ambos com respeito. E quando digo o todo, incluo o doloroso, o cruel, o ruim, o difícil, o miserável, o secreto, o desajustado, tudo aquilo que doeu ou que fez mal, porque tudo isso faz parte e é nutriente necessário para chegar onde estamos e para levar ao nosso lado nosso companheiro. 

Muitas pessoas competem com o parceiro para demonstrar que sua família, ou sua história, foi pior ou melhor que a do outro, coisa que sem dúvida provoca conflitos, porque costuma acentuar a lealdade ao próprio sistema."


Joan Bacardi Garriga