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30/09/2019

A dinâmica em quadros psicóticos

Fragmented face -  Konrad Biro

O significa psicose?

"Já é tempo de honrarmos aqueles que denominamos psicóticos, e especialmente os que diagnosticamos como tais. Pois a psicose não é uma doença nem uma culpa. E uma tentativa de juntar o que não pode se compatibilizar no sistema, especialmente um perpetrador e sua vítima. Eles não se juntam neste sistema. Por isto o sistema so encontra sua paz quando eles também se aproximam. Pois não existe, afinal, uma ligação mais estreita do que entre o assassino e a sua vítima.
A reconciliação entre eles e o paradigma de toda reconciliação. Somente aqui se mostra o sentido último de uma reconciliação. Nela a culpa não importa mais. Já não existe diferença entre bons e maus, perpetradores e vítimas: diante de um poder superior, existem apenas pessoas que neste conflito foram tomadas a seu serviço.

O psicótico experimenta em si os lados antagônicos. Em sua alma ambos estão presentes, o assassino e sua vítima, porém não reconciliados. Por isto ele esta perturbado.

Por meio deste trabalho e destes movimentos da alma, como os denomino, podemos ajudar estes dois lados a se compatibilizarem. Então todo o sistema fica curado: não apenas aquele rapaz, mas também seu pai e muitos das gerações anteriores, que provavelmente também foram psicóticos.

A consciência moral opõe se a isto. E sempre existem pessoas que, em sua boa consciência, se indignam contra o assassino. Elas não toleram que um assassino, um criminoso, também seja acolhido no todo com os mesmos direitos. Desprender-se desta boa consciência e, ultrapassando esta moral, reconhecer a todos, num nível superior, como igualmente bons e tomados a serviço, é a grande realização que exige de nós a consideração destes contextos, e a recompensa que ela nos proporciona.

Frau vor dem Spiegel - Pablo Picasso


Perpetradores e Vitimas

O que é que abre nossa alma, aprofundada a e fazendo a crescer? Respondo com um simples exemplo. Quando vocês olham uma pessoa inocesnte e uma outra que assumiu uma culpa, qual delas tem a alma mais estreita? E a alma inocente. Qual é a verdadeira razão? E que quem se esforça por manter a inocência bane muita coisa de sua alma. Com isto ela permanece estreita, permanece criança. Quem cresce interiormente acolhe na alma o que antes tentou expulsar dela.

Quando somos educados em uam família precisamos excluir alguma coisa, o que chamamos de mau ou perverso, para ter o direito de pertencer-lhe. O preço que pagamos para pertencer à família é a disposição de eliminar ou excluiro o que não tem parte nela. Quando, apesar de tudo, damos a isto um lugar em nossa alma, temos má consciência, mesmo que tenhamos feito algo bom.

Aproximamo-nos da realidade na medida em que abrimos espaço em nossa alma ao que é diferente. Isto começa quando acolhemos o que nos traz sentimentos de culpa. Com isto nos sentimos culpados, mas também nos sentimos mais perto da terra, mas conectados a nossos semelhantes, e mais fortes.
Na família, às vezes algumas pessoas são excluídas ou simplesmente desaparecem por que ninguém mais pensa nelas. Também podemos continuar envolvidos por muito tempo com alguém que morreu, ou ficar irritados e cortar relações com alguém.

O que acontece quando prolongo o luto por alguém: uma parte de minha alma permanece com esta pessoa. Isto não pesa somente para mim; pesa também, talvez, sobre ela, pois não fica livre enquanto eu não interiorizar a parte que deixei com ela. Quando acolho com amor, em miha alma, essa pessoa em sua totalidade, tal como ela é, fico mais rico e, ao mesmo tempo, curiosamente, também fico livre em relação a ela. Acolhendo-a com amor, eu a ganho e ela se torna parte de mim. Ao mesmo tempo, fico livre dela e ela fica livre de mim.

Um exemplo bem simples: Quando dou a meus pais um lugar em minha alma com amor, eu os tenho e sinto-me ampla e ricamente presenteada. Simultaneamente, sinto-me livre em relação a eles. Estou livre diante deles porque os aceitei. Pela mesma razão eles também sentem que estão livres em relação a mim. Nisto reside, portanto, o estranho paradoxo: ao aceitar eu me enriqueço, mas ao mesmo tempo fico livre. Também o outro fica livre em relação a mim, porque o acolhi.

E, quando tomo o que esta pessoa me deu, ela nada perde. Quando o que ela me deu ou transmitiu é aceito, ela não perte e também se enriquece. Porem, quando me recuso a aceitar alguma coisa, ambos ficamos pobres: aquele que quis me dar algo e eu, que me recusei a aceita-lo.

Para que serve esta longa introdução? Ela se relaciona às dinâmicas que lavam a psicose numa família: Quando lidamos com psicóticos vemos que em suas famílias algo foi reprimido, algo que as pessoas não querem ver, frequentemente algo perigoso: por exemplo, um assassino ou sua vítima. Então é possível perceber que esses dois, o assassino e sua vítima, não se reconciliaram. O assassino teme acolher a vítima em sua alma, e a vítima teme acolher o assassino em sua alma. Com isso, uma parte da alma do assassino fica com a vítima, e uma parte da alma da vítima fica com o assassino. Com isso, eles permanecem amarrados um ao outro e não conseguem desprender-se.

Como consequência disso, algum membro da família precisará algum dia representar ambos, o assassino e a vítima. Com isso poderá tornar-se psicótico, pois, de um lado, se identifica com a vítima e, de outro, com o assassino. O conflito entre ambos, que estão mutuamente entregues sem que se harmonizem, também é vivenciado na alma dessa pessoa, causando sua confusão.

Que procedimento adotamos para a solução? — Olhamos para o perpetrador e a vítima e colocamos, talvez, frente a frente, os seus representantes. Em seguida ajudamos a vítima a acolher o assassino em sua alma, e ajudamos o assassino a acolher a vítima em sua alma. Quando eles conseguem isso, livram-se um do outro e também se reconciliam. Então a alma do psicótico também se reconcilia com ambos e fica livre de ambos.”

Bert Hellinger - Conflito e Paz: Uma resposta ( Editora Cultrix, 2007)




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