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17/09/2013

Constelação Familiar e Figuras - Jakob Schneider







Constelações utilizando figuras com clientes individuais 
por Jakob Schneider (Tradutor Rodrigo Diego Ramos)

As Constelações Familiares e Empresariais se tornaram bem conhecidas como um trabalho de grupo. Este trabalho, assim como as áreas afins do trabalho sistêmico orientado às soluções e da psicoterapia fenomenológica, alcançou uma importância fundamental nas áreas psicossociais e também em diversas abordagens da terapia individual.
Existem muitos terapeutas e facilitadores atuando em situações que não permitem o trabalho de uma Constelação com grupos. Também existem terapeutas que podem não se sentir confortáveis para trabalhar grupo. Entretanto, muitos desses profissionais se sentem profundamente atraídos aos conceitos e ferramentas implícitos no trabalho de Constelação e procuram por maneiras de integrar essa abordagem em seus trabalhos individuais, de casais e famílias, ou talvez até na supervisão de pequenos grupos. O trabalho de Constelação com Figuras ou objetos proporciona um método simples e direto. As figuras, representando um membro familiar ou pessoa significativa no sistema em questão, são dispostas em uma mesa ou um espaço definido do local de trabalho.

As figuras

O que se segue é baseado na minha experiência pessoal com Constelações com Figuras. Pouco após a minha primeira experiência com as Constelações Familiares de Bert Hellinger e minhas primeiras tentativas para trabalhar com esse método em grupos, eu peguei uma sacola com os Playmobils do meu filho, que há tempos foram relegados ao porão de minha casa. Eu comecei a carregá-los comigo para os lugares em que eu não tinha o apoio de um grupo para os meus trabalhos de terapias e aconselhamentos. Dentre estes lugares estão inclusos um centro de aconselhamento de famílias e casamentos, uma clínica psicossomática, pequenos grupos de supervisão e minhas próprias práticas privadas.
Eu estava compelido de alguma forma a proceder na direção das Constelações. Após minha primeira experiência com Constelações Familiares em grupo eu já estava certo que esse seria o “meu” método e a “minha” maneira de fazer terapia, seja em grupos ou com indivíduos. Utilizar as figuras Playmobil foi algo que aconteceu muito naturalmente, sem precisar de muita consideração. Elas estavam disponíveis, eram práticas, fáceis de carregar e possuíam poucas variações entre elas: simplesmente homens e mulheres em várias combinações de cores.
Graças a Deus que eu não perguntei a ninguém sobre isso neste período, de modo que me foi possível ganhar experiência com as figuras sem nenhuma opinião ou objeção externa. Nessa época, eu não tinha certeza de que ainda era possível comprar essas figuras Playmobil mais simples. Entretanto, o tipo de figura utilizada não é terrivelmente importante. Existe disponível no mercado, por exemplo, um “quadro familiar” com figuras de madeira.
Contudo, existem alguns critérios que eu considero importantes na escolha de suas figuras:
  • Elas devem ser figuras com as quais o terapeuta possa trabalhar confortavelmente. Não se preocupe se os clientes irão aceitá-las. Se o método e as ferramentas estão certos para o terapeuta, os clientes quase certamente irão concordar;
  • As figuras devem apresentar o mínimo possível de “personalidade”, diminuindo assim quaisquer preconceitos e distrações quanto ao não essencial. As figuras não são importantes em si, mas apenas uma projeção espacial dos membros do sistema.
Trabalhar com figuras é mais fácil se estas permitirem algumas distinções básicas. Por exemplo: entre homem e mulher, alguma forma de indicar a direção em que a figura olha, talvez cores ou alguma marca que diferencie uma pessoa de outra. Usar figuras menores para representar crianças pode ser uma distração uma vez que isso pode sugerir uma fixação temporal na infância do elemento, removendo a característica “atemporal” do trabalho de Constelações.

Experiências anteriores com grupos de Constelações

Eu trabalho principalmente com grupos e meu uso de figuras em trabalhos individuais é baseado totalmente nos meus trabalhos de Constelações em grupos. Eu não consigo me imaginar fazendo Constelações com Figuras sem alguma experiência com Constelações em grupo. Eu acredito que é necessário que um terapeuta possua experiências com Constelações em grupo para trabalhar com Constelações com Figuras. Essa experiência não necessita ser a de trabalhar em grupos diretamente como constelador. Eu recomendaria ao terapeuta assistir a uma Constelação em grupo trabalhando uma questão sua, observar trabalhos de Constelações Sistêmicas e vídeos de Constelações que dão algumas impressões de como são as Constelações. Conheço terapeutas e facilitadores que trabalham com figuras sem nunca terem trabalhado com um grupo de Constelação, mas eu nunca soube de alguém que tentou trabalhar com figuras sem ter visto uma Constelação em grupo.
Na próxima seção, entrarei em detalhes sobre quando uma Constelação com Figuras é apropriada, como eu introduzo o método ao cliente e como eu trabalho em uma sessão individual utilizando as Constelações com Figuras. Em seguida, abordarei os riscos e oportunidades inerentes deste método e, finalmente, tratarei sobre as Constelações com Figuras e o valor dessa abordagem no trabalho de “alma”.

O lugar das Constelações com Figuras na terapia

 O aconselhamento e a terapia dão suporte a processos que se movimentam para uma solução. Tais processos podem aparecer em uma variedade de formas.
Primeiramente, existem problemas que podem ser solucionados por mudanças no comportamento do cliente, através de aprendizado, criatividade e espiritualidade. Neste caso a preocupação é, até certo ponto, com algum tipo de atividade mental que libere o cliente de pensar e agir de maneiras que bloqueiam a solução.
Há também a área dos traumas, as feridas profundas que geralmente se relacionam com amores interrompidos, movimentos não concluídos de aproximação à mãe, ao pai, outra pessoa importante ou até mesmo à própria vida. Estas feridas traumáticas frequentemente nascem de experiências da infância e podem ser resolvidas por um processo retroativo de cura da alma entre a criança e aquilo que é essencial à sua vida.
Finalmente, existe uma vasta área de conexões e liberações nos relacionamentos. Problemas podem aparecer em uma conexão profunda de uma pessoa a um destino comum e suas consequências, primeiramente dentro da sua família e das pessoas próximas a ela. A solução é encontrada através de insights dentro das Ordens do Amor.
O trabalho de Constelações se foca nos processos de conexões e liberações na alma. As soluções emergem através do olhar para todo o sistema de relacionamentos. Todos no sistema possuem um direito igual de pertencimento e deve ser permitido a todos ocupar o seu lugar de direito. Cada um dos integrantes do sistema carrega seu próprio destino por conta própria, evitando meter-se no destino alheio. Todos os membros do sistema devem permitir que os acontecimentos do passado permaneçam realmente no passado. O trabalho de Constelações se relaciona com vida e morte, boa e má sorte, saúde e doença, sucesso ou fracasso nos relacionamentos, pertencimento e exclusão, dar e tomar, recompensa e débito e também com autoafirmação como contraponto a ser apenas um instrumento, sujeito às influências do sistema.
Em essência, existe um critério que indica quando uma Constelação Familiar pode ser um método útil: sempre que existir algo na “alma do grupo” que deseja ordem, paz ou conclusão; quando emaranhamentos estão atrapalhando um processo de solução ou quando uma dificuldade no destino familiar se mostra um fardo.

Procedimentos na Constelação com Figuras

Muitos terapeutas e facilitadores desejarão integrar as Constelações Familiares utilizando figuras com sua própria maneira de trabalhar e com suas próprias orientações terapêuticas. Para mim, quando existem problemas nas conexões e liberações, eu normalmente faço uma sessão na qual o trabalho se concentra inteiramente na Constelação com Figuras. Existe, entretanto, uma infinidade de maneiras disponíveis para trabalhar.
Existem certos elementos importantes ao proceder com uma Constelação com Figuras. Assim como nas Constelações em grupo, é essencial que, em uma sessão individual, a Constelação lide com uma questão séria e que seja trazida pela energia do cliente. O terapeuta depende dessa energia que leva à solução e também depende do “peso na alma” do cliente em relação à questão trazida. Como um ponto de partida, perguntas sobre a natureza do problema e sobre qual seria uma boa solução dão clareza e força, que são cruciais ao sucesso de uma Constelação Familiar. O terapeuta e o cliente necessitam saber desde o princípio onde direcionar suas energias. Ambos podem sentir o movimento da “alma do grupo” que irá levar seus esforços a uma boa solução.
Frequentemente, o problema real do cliente e a força que pode influenciar positivamente o movimento à solução estão escondidos no início de uma sessão individual. É então necessária uma condução no trabalho das Constelações e no processo da alma que dá suporte a esse trabalho. Esta condução deve ser curta, afastando distrações ou outros problemas não essenciais, trazendo energia e atenção aos processos familiares fundamentais e construindo a confiança no trabalho em conjunto (constelador e cliente). Eu costumo comentar brevemente sobre a minha maneira de trabalhar, sobre emaranhamentos nos sistemas familiares, crises nos relacionamentos e sobre o que eu irei procurar na Constelação. Se eu já possuo alguma idéia de onde nosso trabalho pode se encaminhar, eu posso contar uma ou mais histórias de outros casos que são apropriadas ao trabalho em questão. Se eu não possuo nenhuma sensação da direção de encaminhamento do trabalho, pode ser útil utilizar uma variedade de exemplos curtos e prestar atenção às reações dos clientes.
Em uma Constelação, a base para um passo que leva a uma solução é construída a partir de informações relevantes: os eventos mais importantes na história familiar (da família atual e/ou da família de origem) e os destinos dos familiares e pessoas próximas. Estas informações e a maneira com que o cliente as expressa geralmente leva a um movimento profundo no sistema de relacionamentos e também leva a um vislumbre do amor, do respeito e dos emaranhamentos que atuam no sistema. Ou então você pode sentir imediatamente qual informação possui força e qual não possui. Se algo importante foi omitido ou se o cliente não possui alguma informação crucial.
Esta troca de informações é dialógica e ambos (o cliente e o terapeuta) necessitam estar em contato com a “alma do grupo”. Este processo reside no essencial e existe a serviço da solução, que pode ser alcançada apenas com respeito e aceitação aos eventos e destinos envolvidos.
O núcleo do trabalho orientado à sistêmica é a própria imagem da Constelação: encontrar a dinâmica do sistema de relacionamentos (na verdade, se permitir ser tocado por esta dinâmica), reorganizar as posições das figuras em uma “imagem da solução” e falando as frases apropriadas para conexões e liberações.

Introduzindo as Constelações com Figuras

Quando alguém já viu ou experimentou uma Constelação Familiar em grupo ou conhece os livros ou vídeos de Bert Hellinger, geralmente não se faz necessária uma introdução às Constelações com Figuras. Você pode simplesmente pedir ao cliente que posicione seus membros familiares utilizando as figuras. Nestes casos, assim como faço com pessoas que não conhecem Constelações, eu utilizo como referência o trabalho de Constelações em grupos e explico brevemente como ocorre uma Constelação dentro de um grupo. Para mim, o trabalho fica mais simples se utilizo as figuras da mesma forma que trabalharia com os representantes.
Após estabelecer uma conexão entre a Constelação com Figuras e a Constelação em grupos, eu determino com o cliente quais pessoas são (inicialmente) importantes para a Constelação e trago as figuras à mesa. Então, eu peço ao cliente que posicione as figuras umas em relação às outras, sem falar ou me explicar nada, de acordo com a sua imagem interna, sem considerar qualquer ordem cronológica ou outra justificativa, mas apenas da forma que ele se sinta bem. Na maioria das vezes o cliente “monta” a Constelação sem nenhuma dificuldade.
Quando surge algum problema nesses passos iniciais, eles geralmente não são diferentes do que acontece em um grupo. Talvez não seja o momento certo para fazer uma Constelação pois o cliente ainda não está pronto internamente, talvez o cliente não confie o suficiente no método ou no terapeuta ou então o foco da Constelação para a questão trazida seja diferente (por exemplo, na família de origem ao invés da família atual, ou vice-versa).
Isso revela uma das grandes desvantagens da terapia individual quando comparada ao trabalho em grupo. Em um grupo, você pode trabalhar primeiramente aqueles que estão prontos. Outros clientes, que podem estar reticentes, indecisos ou em dúvida, acostumam-se vagarosamente ao trabalho, assistindo os processos de outras Constelações ou atuando como representantes no sistema familiar de outra pessoa. Eles podem dar o tempo necessário aos seus processos internos.
Se o posicionamento das figuras se prova muito difícil para o cliente, algumas vezes eu as coloco de acordo com o que sinto como certo a partir da informação que tenho. Eu então peço ao cliente para corrigir minha Constelação. Se você tem a impressão de que a Constelação foi montada a partir de uma idéia ou se, de alguma forma, não corrobora a informação dada, ou se todas as figuras estão alinhadas olhando para o cliente (e não sua figura representada no sistema), você pode pedir ao cliente para verificar a Constelação novamente.
A última dificuldade mencionada, as figuras alinhadas olhando para o cliente, ocorre repetidamente em meus atendimentos, mas é facilmente corrigida. Lembre ao cliente que ele(a) já está representado por uma figura e que a Constelação tem de refletir os relacionamento de uma pessoa com as outras da família.

Trabalhando com uma Constelação com Figuras

Uma Constelação com Figuras serve para revelar os emaranhamentos dos clientes no seu sistema familiar e para tornar claras as conexões e soluções do sistema. Permite ao indivíduo tomar o seu lugar apropriado na rede de relacionamentos, uma posição que é possível tomar honrando e respeitando a ambos os pais. A Constelação permite que a pessoa libere com amor, que veja o que é necessário deixar ir em paz e que tome qualquer um que tenha sido excluído no sistema de volta ao seu lugar de direito e em seu coração.
A dinâmica das conexões e soluções tem de ser explicitada pelas Constelações com Figuras sem a ajuda dos sentimentos ou feedbacks dos representantes, uma vez que as figuras não sentem e não falam. É tarefa do terapeuta ou facilitador sentir o sistema e expressar os sentimentos que refletem a dinâmica familiar. Naturalmente, você pode pedir ao cliente para ele mesmo faça isso, o que algumas vezes resulta na experiência do “Aha!”. Em minhas práticas, entretanto, os clientes geralmente estão cegos às dinâmicas familiares fundamentais. Eles trazem um entendimento inconsciente do processo, do contrário eles não poderiam montar a Constelação de maneira apropriada e o terapeuta não conseguiria “sentir” o sistema, mas esse conhecimento inconsciente é velado. A tarefa do terapeuta, como observador externo, é ajudar a “alma do grupo” do cliente abrir-se de forma que aquilo que está escondido seja revelado e dito abertamente.
Desde o princípio, eu apresento o conceito de Constelação em grupo como nosso ideal de trabalho e baseio meus comentários sobre dinâmicas familiares no processo em grupo. Como um observador externo, eu falo de meus sentimentos e sensações no papel de cada membro familiar em sua posição apresentada. Isto é, eu não afirmo sobre como os membros familiares se sentem em certa posição, mas sim do que os representantes destes membros provavelmente sentiriam. Eu faço isso porque desta forma o cliente possui algum distanciamento da sua experiência dominante com os membros de sua família e porque isso dá ao cliente e a mim mais liberdade para experimentar e tomar o que puder ser visto na Constelação. Também me facilita quando for necessário corrigir o que foi dito e circundar resistências. Se o que digo sobre a dinâmica familiar e os sentimentos dos representantes tem ressonância e toca algo profundamente, o cliente estará em contato com sua família em um transe de maior ou menor intensidade.
Enquanto falo, eu presto atenção às reações do cliente. Algumas vezes eu pergunto se minhas sensações parecem corretas e se fazem sentido ao cliente. Quando eu tenho sucesso em sentir o sistema e suas dinâmicas, o cliente está “ganho” e geralmente nada mais irá ficar no caminho do trabalho em direção a uma boa solução. Muito frequentemente um cliente me pergunta estupefato: “Como você sabia disso?”.
Na próxima etapa, eu continuo trabalhando com as figuras assim como faria em uma Constelação em grupo. Então mudo as posições das figuras e digo em voz alta as mudanças que ocorrem nas dinâmicas e sensações, até que consigamos ver aquilo que está tentando se revelar. Eu continuo desta forma até nós chegarmos a uma imagem da solução. Quando eu estou certo, por conta de meus próprios sentimentos ao ser tocado e também os sentimentos do cliente, eu simplesmente fico com aquilo que emerge e digo ao cliente. Se eu não sinto certeza, eu interrompo o processo e pergunto o que o cliente sente, em relação a si mesmo e aos membros de sua família ao olhar para os movimentos das figuras. Eu peço mais informações ou tento posições diferentes das figuras para determinar qual parece ser a mais correta. Eu continuo até que a dinâmica e a solução são reveladas de maneira suficientemente clara.
Eu peço ao cliente sentir a posição da solução e me contar como é essa sensação. Eu observo para averiguar se esse lugar traz alívio ao cliente e se parece curar, solucionar ou tranquilizar. Algumas vezes, eu paro a Constelação com Figuras neste ponto.
Eu geralmente faço uso de frases de solução que podem ser faladas em Constelações em grupo quando o cliente substitui seu representante na Constelação, ou uma frase que o representante pode falar diretamente ao cliente. Eu faço isso quando o cliente está com dificuldades em tomar o seu novo lugar no sistema, quando a solução que encontramos ainda não “assentou” ou parece necessitar de mais aprofundamento ou elucidação.
Frequentemente, a parte mais importante do processo em uma Constelação com Figuras – assim como nas Constelações em grupo – é ser tocado pelas frases que revelam a profundidade das conexões e ser tocado, também, pelo alívio e a liberação das frases de força. Muitas vezes eu peço ao cliente falar as palavras apropriadas, internamente ou em voz alta, e imaginar ou até mesmo fazer alguns gestos como, por exemplo, o movimento de se curvar em reverência.
Caso eu não sinta meu caminho dentre as dinâmicas do sistema, se eu não tenho nenhum sentimento pelos membros familiares representados pelas figuras ou pelas dinâmicas apresentadas, ou se o cliente permanece indiferente à minha “imagem” da rede de relacionamentos, então eu interrompo o processo de Constelação e busco mais informações, conto histórias curtas ou simplesmente interrompo o trabalho.

Riscos e oportunidades nas Constelações com Figuras

Os perigos e equívocos que podem ser feitos durante a execução de uma Constelação com Figuras são basicamente os mesmos presentes ao constelar com grupos:
  • Trabalhar sem o cliente estar realmente pronto para a Constelação ou trabalhar sem a força do cliente;
  • Seguir um padrão pré-determinado que não permita que nada novo e diferente surja;
  • Trabalhar com muita informação ou faltando alguma informação crucial;
  • Ser influenciado por padrões visuais ou associações que não encontram harmonia na alma.
A principal deficiência das Constelações com Figuras, comparada com uma Constelação em grupo, é que não é possível a um terapeuta entrar em contato com as dinâmicas do sistema através das declarações dos representantes. Em casos difíceis, com dinâmicas novas ou incomuns, isso é crucial. Por exemplo, se uma pessoa em um sistema é atraída a sair em favor de outro membro, isso geralmente não se mostra de maneira clara na Constelação. É na fala dos representantes que esse tipo de dinâmica pode ser evidenciada. Se um terapeuta suspeita de algo desse tipo, é mais fácil de verificar em um grupo. A energia e a participação dos membros do grupo observando a Constelação também dão indicações importantes sobre a precisão dessas hipóteses.
Essas dificuldades, entretanto, não são críticas. As dinâmicas da “alma de grupo” do cliente não são reveladas pelos representantes, mas sim pela própria alma do cliente. Em um atendimento individual também é possível sentir força quando uma hipótese traz algo essencial à luz.
O último critério é uma sensação de harmonia e a sensação de ambos, o terapeuta e o cliente, serem tocados. Isso pode ser muito surpreendente em uma Constelação com Figuras. O terapeuta vê a solução através de uma compreensão direta do cliente. Compreensão significa tomar aquilo que emerge das profundezas. A antiga palavra grega para “verdade” significa aquilo que não está oculto da visão. Aquilo que se desemaranha e é solucionado, geralmente vem de maneira inesperada e silenciosa. Nos toca, serve à paz e favorece o movimento. Honra e é benéfica a todos do sistema.
Constelações com Figuras também são uma oportunidade de trabalho para terapeutas ou facilitadores que não se sentem competentes para lidar com processos em grupo. Um grupo de Constelação pode tomar uma dinâmica própria, que não serve ao sistema do cliente, se este grupo não possuir visão, percepção precisa e o terapeuta não possuir certa capacidade de liderança. Uma Constelação com Figuras também evita o perigo de representantes trazerem seus próprios problemas pessoais à Constelação. O preço para o controle dos fatores citados é que, concomitantemente, existe menos controle sobre os preconceitos e “pontos cegos” do próprio terapeuta e, em uma prática individual, um terapeuta pode ser mais vulnerável aos caprichos do cliente (algumas vezes de maneira considerável).

Constelações com Figuras e o Trabalho da Alma

Em Constelações em grupo, aqueles que são posicionados na Constelação estão em ressonância com a alma do sistema. Figuras não conseguem fazer isso. Elas permanecem objetos representativos cuja função é a visualização. Você não precisa pedir a uma figura para sair de seu papel ao final da Constelação.
Constelações com Figuras podem ser limitadas a uma representação visual, que é como trabalhei em meus primeiros anos. As figuras providenciam uma ponte visual, uma descrição gráfica do que está em discussão, um método que talvez permita sugestões indiretas. Tudo isso pode ser muito útil, mas uma Constelação pode oferecer mais. É incrível como ela estabelece um espaço para alma onde a “alma do grupo” pode ter ressonância. Essa ressonância é transferida ao terapeuta e ao cliente.
O trabalho de Constelações não se trata apenas de trabalhar com imagens visuais. Ele nos toca profundamente e nos comove porque dá dimensão a essas imagens. Imagens espaciais são diferentes de imagens bidimensionais planas, não apenas em evidenciar a correta dimensão dos relacionamentos mas principalmente porque permitem que algo surja através da imagem. Aquilo que se mostra é algo difícil de descrever e não é visível ao se olhar apenas para a imagem. O que surge é um campo de ressonância.
A ressonância do cliente e do terapeuta com a “alma de grupo” e suas dinâmicas não vem das figuras, mas através delas. Ao mesmo tempo, a Constelação com Figuras dá suporte ao processo terapêutico que é externalizado e se afasta de pensamentos internos e idéias. O processo se situa mais próximo da realidade do que simplesmente quando o cliente e o terapeuta “falam sobre o assunto”.
A profundidade surpreendente da sensação de ser tocado não vem somente da Constelação. A “ressonância” é também algo conectado por palavras: palavras que refletem verdades básicas, palavras que esclarecem, palavras de conexão e “desemaranhamento”, palavras de amor e de força. As experiências profundas e comoventes também surgem de gestos, uma expressão física dos movimentos da alma.
Trabalhar com figuras tem um efeito profundo apenas quando é considerada além dos aspectos visuais e vai ao campo da rede de relacionamentos, quando é permitida que a força desse campo penetre e revele os gestos e palavras de cura e solução.

O valor das Constelações com Figuras como um método

Qualquer um que está convencido da profundidade de alcance dos processos em sistemas familiares e na alma pode, é claro, trabalhar a caminho das soluções sem Constelações, grupos ou figuras. Apenas através da consciência de fatos e eventos essenciais e permanecendo em harmonia com a alma da pessoa que solicita ajuda em suas questões. Entretanto, tais métodos normalmente facilitam o trabalho do terapeuta e também dão ao cliente acesso ao que é essencial e crucial.
Os processos de Constelações coletam informações, estruturam os processos e focam a atenção. Ao usar as Constelações, é mais fácil para o cliente e o terapeuta experimentar uma jornada, abertos ao que emergir das profundezas. Eles se juntam em um espaço na alma do cliente, apenas pelo período necessário, para encontrarem uma solução. Em uma Constelação com Figuras e na imagem da solução o cliente experimenta algo que pode ser levado para casa – algo que continua a trabalhar na sua alma e frequentemente se desdobra em sua potencialidade apenas após certo período.
Talvez seja algo análogo a uma performance de teatro. Apenas ler a peça pode me deixar enfeitiçado, mas a performance no teatro é geralmente uma experiência mais profunda e impressionante. Isto é verdade, entretanto, somente quando a performance se mantém fiel à essência da peça, à realidade e à uma transformação da audiência.





·         Título Original: Using Figures for Family Constellations with Individual Clients
·         Autor: Jakob R. Schneider
·         Tradutor: Rodrigo Diego Ramos
·         Fonte: www.constellationset.com/pdf/schneider.pdf  /  http://www.constelacoessistemicas.psc.br/textos/constelacoes-utilizando-figuras-tipo-playmobil
·         Publicado originalmente em: Weber, Gunthard (Ed.) (2000): Praxis des Familien-StellensBeiträge zu Systemischen Lösungen nach Bert Hellinger. Heidelberg (Carl- Auer-Systeme)


12/09/2013

Equilibrio entre dar e tomar - Pais e Filhos - segundo Bert Hellinger








Sobre o amor entre pais e filhos
Sobre tomar os pais e tomar a Vida


"Os pais, ao darem a vida, dão à criança, nesse mais profundo ato humano, tudo o que possuem. A isso eles nada podem acrescentar, disso nada podem tirar.

Na consumação do amor, o pai e a mãe entregam a totalidade do que possuem. Pertence portanto à ordem do amor que o filho tome a vida tal como a recebe de seus pais. Dela, o filho nada pode excluir, nem desejar que não exista. A ela, também, nada pode acrescentar.

O filho é os seus pais. Portanto, pertence à ordem do amor para um filho, em primeiro lugar, que ele diga sim a seus pais como eles são -- sem qualquer outro desejo e sem nenhum medo. Só assim cada um recebe a vida: através dos seus pais, da forma como eles são.

Esse ato de tomar a vida é uma realização muito profunda. Ele consiste em assumir minha vida e meu destino, tal como me foi dado através de meus pais.

Com os limites que me são impostos.
Com as possibilidades que me são concedidas.
Com o emaranhamento nos destinos e na culpa dessa família, no que houver nela de leve e de pesado, seja o que for."

 A Ordem - A relação Pais e filhos - dar e tomar 

Bert Hellinger