Constelação Familiar Sistêmica: a Terapia que mudou a minha vida!
"Constelação Familiar Sistêmica é uma
terapia criada pelo psicanalista alemão Bert Hellinger, que ocorre de
forma energética e fenomenológica. A terapia acontece em um local onde
haja espaço para um grupo de pessoas e sua movimentação. Há um terapeuta
que comanda a sessão, chamada de Constelação. Pouco é falado pelo
terapeuta. E menos ainda pela pessoa constelada (o paciente). A sessão
ocorre em forma de movimentos: a energia surge do inconsciente do
constelado e um grande fenômeno acontece.
O
terapeuta pergunta ao paciente o que ele veio buscar ali hoje. O
paciente responde, por exemplo, que precisa resolver um problema em seu
casamento. O terapeuta solicita que a pessoa constelada escolha uma
pessoa do grupo presente para representá-lo. A pessoa então escolhe
alguém e posiciona a mesma no espaço que se tem para a constelação,
denominado como campo (geralmente uma grande sala vazia, rodeada de
pessoas sentadas à sua volta). O constelado se senta. Em segundos a
pessoa que foi colocada no campo como representante começa a se
movimentar. Esta pessoa simplesmente sente vontade de agir de uma
determinada forma e o faz. Cada gesto tem um significado. E o terapeuta
pode ler através desses gestos, os passos seguintes a serem executados.
Mais pessoas vão sendo escolhidas, uma a uma, para representar a
situação da pessoa constelada. No exemplo citado, se escolheria mais um
representante para o cônjuge. Em seguida, representam-se os pais para o
constelado e seu cônjuge. Filhos, irmãos e outros podem ser também
representados. A ordem das representações e quem acabam sendo
representados é sempre orientado pelo terapeuta.
O
que ocorre é que os representantes no campo da constelação acabam
agindo como atores mágicos, atuando como os personagens da vida da
pessoa constelada. Podem-se ver pessoas chorando, gritando, dançando,
falando, como se tivesse existido ali um roteiro criado e estudado da
vida daquela pessoa. É algo tão real, que chega a parecer mágico.
Uma
constelação pode durar trinta minutos, uma hora ou até uma hora e meia.
Não existem regras. Existe um movimento energético que todos sentem e o
terapeuta além de sentir, interpreta e guia. Através dos acontecimentos
mostrados pelos representantes, o constelado vê a sua própria vida
passando pelos seus olhos, mas sob uma nova perspectiva: do todo! A
constelação familiar sistêmica leva sempre em consideração a importância
dos membros da família: pais, avós, irmãos, filhos e netos, além de
cônjuges, filhos adotados e quem mais pertencer aquele ciclo familiar.
Ninguém nunca pode ser excluído. Ou veem-se as consequências de tal
exclusão no mesmo meio familiar.
É
possível se descobrir segredos através de uma constelação familiar, uma
vez que toda a verdade que cerca a vida de uma pessoa e sua família está
impregnada em seu inconsciente. E aí então se manifesta. Por exemplo:
pode existir numa família uma criança que foi adotada, que não é
legítima, mas que não foi apresentada como tal. Numa constelação, esta
informação se revela. Bem como outras.
A
constelação familiar é uma terapia intensa, surpreendente. Chega a ser
chocante, tamanha verdade que se vê e o pouco que se compreende em sua
manifestação. Não apenas a pessoa constelada se beneficia em sua sessão,
mas todos os representantes que participam da terapia, pois os
representantes acabam sempre sendo escolhidos energeticamente pelo
inconsciente do constelado, de forma que aquela pessoa sempre terá
alguma identificação em si mesmo com o que virá a representar no campo.
Esta também se beneficia: se cura.
Segundo
Bert Hellinger, não devemos tentar entender o que acontece numa
constelação. Quando se tenta compreender, de alguma forma interrompemos
ou atrapalhamos a energia que está no comando da situação. Como seres
humanos, confusos e tão pequenos, afirmo que é muito difícil ver tamanha
manifestação e não tentar compreendê-la. Mas aos poucos aprendemos a
apenas aceitá-la e não mais entendê-la.
Quando
uma sessão acaba, pode ser que a mesma tenha indicado uma tarefa a ser
realizada, por exemplo: conversar com o cônjuge sobre algo do passado,
que transformou aquela união em algo ruim. Ou pode ser que nada mais
precise ser feito. A energia liberada ali continua se manifestando. E as
mensagens trocadas naquele momento agem como se realmente tivessem
acontecido com as pessoas reais ali representadas.
Quando
eu mesma fiz a minha primeira constelação, fiquei em estado de choque
por alguns dias. Descobri alguns segredos de mim mesma e de demais. Após
duas semanas, comecei a perceber grandes mudanças em mim. Com o passar
do tempo, percebi que as pessoas envolvidas em minha sessão também
haviam começado a mudar em relação a mim e as minhas questões.
A
mudança foi tamanha que constelei mais duas vezes, de meses em meses.
Esta não é uma terapia que pode ser feita regularmente como a pessoa a
ser constelada. Tem que se dar tempo ao tempo, literalmente. Como
representante pode-se participar sempre.
Meses
após minhas constelações, vi mudanças que nunca, nem como escritora,
havia sonhado. Nem em meu pico mais alto de criatividade poderia ter
inventado tamanhas reviravoltas em minha vida. Estas que me levaram a um
estágio melhor de vida e consciência: autoconhecimento e aceitação.
Resignação diante daquilo que é, do que não se muda.
Muito
há para se falar da Constelação Familiar Sistêmica. Apesar de adepta à
terapia, ainda sinto que apenas duas páginas para se falar do assunto é
extremamente pouco. Mas enquanto não me especializo no assunto para a
escrita do merecido e sonhado livro a respeito, fica aqui o meu
testemunho e desejo, de que todos saibam da existência e poder desta
viva terapia.
A Constelação Familiar
Sistêmica, a meu ver, é a mais intensa, forte e viva terapia nos dias
atuais. Para alguns pode ser que seja intensa e real demais. Ainda
assim, vale a pena conhecer e falar com o terapeuta a respeito. E
depois, talvez, se decidir por ela!"
Fonte: Artigo de Carolina Vila Nova para o site Conti Outra - http://www.contioutra.com/constelacao-familiar-sistemica-a-terapia-que-mudou-a-minha-vida/
Fonte: Artigo de Carolina Vila Nova para o site Conti Outra - http://www.contioutra.com/constelacao-familiar-sistemica-a-terapia-que-mudou-a-minha-vida/
Relatividade
da teoria: Como funciona a Constelação Familiar, uma terapia inventada pelo
alemão Bert Hellinger que promete curar males físicos e espirituais em
interpretações teatrais de menos de uma hora.
A situação: uma menina perde o
irmãozinho, cresce, casa-se e tem um filho que, na adolescência, fica viciado
em drogas. A explicação: quando um membro da família morre, é excluído ou
tratado com desrespeito, isso cria problemas que vão se manifestar uma ou mais
gerações adiante. Assim funciona o mecanismo de descoberta e superação
preconizado pela Constelação Familiar, método terapêutico desenvolvido por Bert
Hellinger, um ex-padre alemão, hoje com 83 anos, que usa elementos da
psicanálise, em especial da vertente junguiana, das técnicas de psicodrama e de
algumas convicções de cunho muito pessoal sobre a origem de problemas físicos e
psicológicos. Praticada no Brasil há doze anos, a Constelação começou como um
método exótico, mas vem ampliando atividades, sobretudo em São Paulo, no Rio de
Janeiro e em Minas Gerais. Seu pilar central é a crença de que muitos problemas
da vida presente de uma pessoa estão relacionados com a forma como seus pais e
antepassados em geral lidaram com exclusão, doença e morte. "Bert estudou
a psicanálise e percebeu que havia questões que não estavam no nível da
consciência, uma vez que elas haviam sido criadas antes do nascimento. Por
isso, para muitos pacientes, a teoria psicanalítica não ajudava em nada",
diz o discípulo e médico holístico Renato Bertate. "Entre as gerações de
uma família, há um equilíbrio de forças que faz com que os acontecimentos da
vida de um antepassado reverberem na vida dos mais novos."
Como sempre acontece com métodos
alternativos que prometem soluções rápidas, a Constelação é veementemente
criticada na esfera das disciplinas consagradas. "Trata-se de um trabalho
apenas esotérico", diz Alexandre Saadeh, psiquiatra do Hospital das
Clínicas de São Paulo. "Não é brincadeira mexer com conteúdos da vida
familiar. É preciso que o paciente tenha um acompanhamento psicoterápico
especializado para enraizar suas questões, e isso simplesmente é descartado nas
constelações. Muitas das pessoas que aplicam o método não são psicólogos nem
psicanalistas."
O método propõe a cura de males
físicos complexos, como psoríase e abortos naturais, e emocionais, como
síndrome do pânico e depressão. Tudo acontece em uma única sessão de cerca de
uma hora, com um grupo de pelo menos quinze pessoas que acreditam na proposta e
são convidadas a participar. Elas ficam dispostas em círculo, num salão. O
constelado paga 350 reais e expõe seu problema à pessoa treinada no método, o
"facilitador", em uma frase muito breve, como "Eu não me
relaciono bem com meu pai" ou "Penso muito em suicídio". Em
seguida, escolhe pessoas do grupo para representar no meio do círculo, em uma
espécie de teatro, seus pais, irmãos e ele mesmo. O facilitador vai pedindo
informações sobre a família e, à medida que surgem novos membros considerados
importantes por ele (um tio alcoólatra, uma avó depressiva), outros do grupo
são arregimentados.
Desenvolve-se assim uma
encenação da história familiar, não necessariamente baseada na realidade, a
partir de interpretações do facilitador e improvisações dos encenadores dos
personagens. Acaba, em geral, com "pais" e "filhos" se
perdoando e aceitando. O clima é muito emocional. Os participantes se abraçam,
choram e até passam mal. "Se o constelado entende e aceita o que aconteceu
com seus ancestrais, sua vida se transforma. A relação com os filhos melhora, e
ele pode até ter avanços na vida profissional", diz a facilitadora
Maristela de André, que é economista e engenheira de formação – o método pode
ser conduzido por pessoas de qualquer profissão, desde que façam um curso de um
ano e meio aplicado por alguém treinado por Hellinger em pessoa. Existem cerca
de 200 dessas pessoas atualmente no Brasil. "A técnica se utiliza de
recursos empobrecidos do psicodrama. Além disso, pedir perdão faz parte de uma
prática religiosa, e não terapêutica", ressalva Márcia Batista, professora
de psicodrama da Pontifícia Universidade Católica, de São Paulo. A despeito das
objeções dos especialistas, muitos constelados dizem que sua vida melhorou. O
consultor de empresas Marcelo Victorino, 40, de São Paulo, buscou a cura de
fortes dores nas costas. Na sessão, contou que seu pai brigava muito com sua
mãe. "Durante o trabalho, a facilitadora convocou personagens para
representar meus quatro avós. Descobri que os avós paternos, que eram árabes,
não aceitavam o casamento do meu pai", relata. Victorino continua a sentir
dores, mas acha que agora sabe "por que elas existem". A publicitária
Renata Feldman, de 35 anos, também identificou em experiências familiares a
origem dos ombros doloridos: "Na sessão, lembrei de um ex-padrasto que
maltratou muito a minha mãe e assumi que tenho uma péssima relação com meu
irmão. A facilitadora me fez entender que carrego no corpo a vivência dessas
dores".
Hellinger já esteve três vezes no Brasil e virá de novo em maio do próximo ano para um seminário que já tem 100 inscritos. É, por motivos óbvios, um personagem intensamente polêmico. Além de seu método ser considerado esotérico e patriarcal, também é acusado em sites na internet de simpatizar declaradamente com Adolf Hitler. "Bert apenas diz que ninguém é superior a ninguém e que não somos melhores que Hitler. Ele acredita numa dinâmica de gerações e prega que os que condenarem Hitler, que o excluírem, jamais terão paz em sua vida", declara Mimansa Erika Farny, alemã radicada em Goiás, discípula direta de Hellinger e responsável pela introdução da terapia no Brasil. "Nossa técnica trilha o mesmo caminho da homeopatia, que sempre foi hostilizada e agora é aceita", acredita. "A Constelação pode até ser vista como um jeito novo de terapia familiar. Mas não tem fundamentação sólida, nem décadas de experiência acumulada, como a psicanálise", rebate a terapeuta de família Lidia Aratangy.
Fonte: Revista Veja - Comportamento - Edição 2126 / 19 de Agosto
de 2009 - por Juliana Linhares - http://veja.abril.com.br/190809/relatividade-teoria-p-118.shtml
Faça o
amor dar certo - Amar e ser amado é o que todos desejamos, mas nem sempre
conseguimos. Conheça o método do terapeuta Bert Hellinger para refazer o fluxo
do amor
O desejo de amar e ser
correspondido é universal. O teólogo e terapeuta alemão de Bert Hellinger, 78
anos - autor do livro Para que o Amor Dê Certo (ed. Cultrix) -, desenvolveu um
método para que o seu amor tenha mais chances de dar certo.
Há mais de três décadas, ele
trabalha fazendo atendimentos individuais e para casais e sistematizou o método
chamado constelações familiares, que busca primeiramente restabelecer o fluxo
do amor entre pai, mãe e irmãos para depois rever os laços com parceiros
amorosos.
Hellinger acredita um novo amor
só poderá ser bem-sucedido se houver o reconhecimento de tudo o que nos foi
dado pelos demais relacionamentos. A primeira relação amorosa tem influência
sobre todas as outras. Segundo o terapeuta, a rejeição consciente ou inconsciente
de amores passados bloqueia a força de um novo amor. "As próximas relações
serão mais enriquecedoras se você levar a sua experiência junto do que se você
for vivê-las como se fosse a primeira."
O respeito à
individualidade
O respeito ao espaço de cada um é
outro aspecto fundamental para o sucesso de um relacionamento. Para amar, é
preciso aceitar duas solidões: a sua própria e a do outro. "Numa relação
deve haver respeito por segredos. É ridículo querer que se conte tudo ao outro.
Não se pode agir como um intruso na alma do outro, mesmo em relacionamentos
duradouros."
Sexo é essencial
Além do amor e da disponibilidade
para a convivência, o terapeuta cita o sexo como o terceiro elemento essencial
na relação de um casal. Para ser completo, o sexo tem de ser aprendido,
exercitado e combinado ao amor. "Muitas vezes, quando as pessoas fazem
sexo, elas estão mais em contato com elas mesmas do que com o outro. Quando o
amor também atua, elas são capazes de ficar juntas e partilhar uma vida comum,
o que é algo bastante diferente", diz o terapeuta.
Não fale mal de seus pais
Muitos dos problemas de
relacionamento que acontecem no presente têm a ver com a forma como nossos
pais, avós e bisavós lidaram com a exclusão, a doença, a morte ou o
esquecimento de entes muito próximos. Essa é a base da terapia das constelações
familiares, de Bert Hellinger.
Entretanto, Hellinger não aceita
nenhuma queixa aos pais em seu trabalho terapêutico. "Você pode olhar para
seus pais de diferentes formas. Eles não são melhores ou piores do que os
outros. O crescimento só poderá ocorrer com certas resistências e dificuldades.
Quando um paciente reclama de seus pais, está fazendo-os responsáveis por sua
própria incapacidade", nota.
Como acontece a sessão
Primeiro, o paciente coloca a
questão que quer resolver e escolhe pessoas do grupo para representar seus
pais, irmãos e outros membros da família. O paciente fica de fora e tem a
oportunidade de observar a situação de conflito que determinou o bloqueio do
amor.
"Os participantes respondem
a perguntas simples do terapeuta. Elas revelam a raiz do problema sem
interpretá-lo. Assim os papéis familiares são reposicionados seguindo uma ordem
em que o amor possa fluir livremente, em que cada um retome seu lugar. O
trabalho não é focado em questões psicológicas, mas nos padrões de
comportamento gerados em determinado sistema familiar", completa Renato
Shaan Bertate, médico paulista, especialista nessa linha terapêutica.
As sessões são feitas em
workshops nos fins de semana. A resposta a cada questão pode durar de 15
minutos a duas horas e não há a necessidade de acompanhamento posterior.
"A redefinição dos papéis e as mudanças necessárias acabam acontecendo de
forma natural e beneficiam todos os envolvidos afetivamente na história",
conclui Renato.
Fonte: Publicado em 27 de Janeiro de 2010 na Revista Bons Fluidos
- por Liliane Oraggio / Fernando Eichenberg -
http://casa.abril.com.br/materia/faca-o-amor-dar-certo
Herança comportamental - Problemas e conflitos atuais podem ter origem no histórico familiar
Temas que podem ser solucionados com a Constelação Familiar:
Herança comportamental - Problemas e conflitos atuais podem ter origem no histórico familiar
Dificuldade
financeira crônica, que nem o melhor dos salários parece resolver;
insatisfação profissional constante, que perdura mesmo diante da mudança
de emprego; bloqueio emocional persistente, que te faz encerrar
qualquer tipo de relacionamento ao menor sinal de envolvimento afetivo. É
bem provável que você já tenha vivido alguma situação assim,
aparentemente inexplicável, mas que segue por anos a fio, sem que
consiga entender o porquê e nem como ela volta a acontecer.
É
bem possível, também, que o problema não tenha necessariamente uma
relação direta com você. Sim, é exatamente isto o que defende um
corrente de profissionais adeptos à linha de pensamento do filósofo e
psicoterapeuta alemão Bert Hellinger. Para ele, alguns dos nossos
obstáculos atuais são uma herança de nossos antepassados, que assumimos
inconscientemente. Ou seja, aquela dificuldade que você não consegue
decifrar, na verdade, é uma recorrência de algo mal resolvido ou não
superado por algum membro da família – e você pode estar condenado a ter
de carregar o mesmo fardo.
“Hellinger,
após anos de observações e aprendizados, percebeu que existiam padrões
de comportamentos que se repetiam ao longo das gerações. Segundo ele, a
consciência nos vincula à nossa família e até a outros grupos. Mesmo
inconscientemente, sentimos como exigência e obrigação para nós o que
outros membros do grupo sofreram ou ficaram devendo uma resolução”,
explica Delmar Franco, gestora do Instituto Evoluir.
Batizado
de Constelação Familiar, o método psicoterapêutico criado por Hellinger
tem uma abordagem sistêmica fenomenológica, com base filosófica.
“O
princípio da Constelação Familiar é a fenomenologia. Significa estar
aberto a compreender algo que está por trás do fenômeno sem julgamentos,
livre de intenções e medo. Outro princípio é a ordem do amor, uma vez
que é preciso amar as pessoas cuja verdade quero conhecer”, explica
Irene Cardotti, psicoterapeuta e especialista em Constelação Familiar.
Como
um retrato vivo, a constelação revela bloqueios e vínculos secretos, a
fim de encontrar uma solução nova e libertadora. “O objetivo da
Constelação Familiar é solucionar questões de ordem afetiva, financeira,
familiar e social que estejam impactando negativamente a vida das
pessoas, transferindo-se de geração a geração”, resume a coaching Selma
Amaro.
“Através
dos trabalhos das Constelações, podemos entender como as ações e
destinos de nossos antepassados podem influenciar a nossa vida atual,
causando problemas de saúde, dificuldades econômicas ou conflitos em
nossos relacionamentos familiares e afetivos”, defende Selma.
Como funciona?
Cada
constelação lança luz sobre o espaço desconhecido onde se ocultam fatos
e sentimentos adotados de outros membros da família, cuja herança traz
reflexos negativos sobre as relações efetivas e a saúde.
O
atendimento pode ser individual ou em grupo. Individualmente,
utilizam-se figuras ou bonecos para representar os familiares. Nos
grupos, os participantes são convidados a assumirem os papéis dos
membros da família de um determinado paciente que está trabalhando a sua
Constelação Familiar.
Segundo
os especialistas, no decurso de uma Constelação Familiar os membros que
representam o papel dos diferentes integrantes da família de outro
participante expressam com autenticidade os sentimentos e sensações
desses antepassados.
Para
o biólogo inglês Rupert Sheldrake, isso é possível porque a transmissão
hereditária não se propaga só através dos genes, mas também através de
campos morfogenéticos que encerram uma espécie de memória coletiva da
espécie. Cada indivíduo da mesma espécie enriquece o seu campo e
conecta-se com essa memória.
De
acordo com o cientista, os campos mórficos são estruturas que se
estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os
sistemas do mundo.
Por
isso, a técnica da Constelação Familiar seria verdadeiramente capaz de
decifrar enigmas, tais como a razão da existência de sentimentos,
sensações, pensamentos e situações conflitantes, que não condizem com a
realidade atual.
Temas que podem ser solucionados com a Constelação Familiar:
- Dificuldade de se relacionar;
- Problemas financeiros;
- Dificuldade de lidar com perdas;
- Indecisão profissional;
- Doenças em geral;
- Dependência química ou comportamento autodestrutivo;
- Conflito (entre pais e filhos, casais, sócios, etc.);
- Dificuldade de comunicação;
- Comportamento compulsivo, fobias, vícios e obsessões;
- Depressão;
- Sentimento de “não pertencer“;
- Traumas.
Fonte: Revista SuaEscolha : Herança comportamental - Problemas e conflitos atuais podem ter origem no histórico familiar (in http://www.suaescolha.com.br/portal/comportamento/181-heranca-comportamental.html )
No fluxo do coração - É possível desmanchar os nós causados por histórias de família mal resolvidas e refazer laços. Apaziguados com a nossa trajetória, podemos seguir plenos na direção dos nossos verdadeiros propósitos
Rogério cansou de abrir e fechar negócios. Parece que em suas mãos os empreendimentos murcham. Já Matilde coleciona uma sucessão de chefes intransigentes. Diariamente tenta atravessar muralhas. Pedro, por sua vez, vive às turras com o pai. Enquanto o problema crônico de Juliana é que, desde a adolescência, só se relaciona com parceiros do tipo demolidores – especialistas em depreciá-la.
A vida
de muita gente é marcada por situações que se repetem, cutucando aquele
mesmo ponto dolorido. Vira e mexe caímos na mesma cilada, como se uma
força desconhecida disparasse dentro de nós a tecla repeat. Do ponto de
vista da psicologia, caímos no mesmo buraco porque agimos em função de
complexos inconscientes. “A memória de vivências que trouxeram grande
sofrimento para a pessoa, que no momento não tinha condições de lidar
com aquilo, é aparentemente ‘apagada’ da consciência, mas fica no
arquivo inconsciente”, explica a psicoterapeuta paulista Cristiane
Marino. Sempre que algum evento externo tiver a menor semelhança com
aquela determinada memória, esse conteúdo transborda, como para lembrar
que continua vivo e atuante. A tendência é continuar assim até cair a
ficha de que é preciso interromper esse ciclo vicioso. E a melhor
maneira de desatar esses enroscos é iluminando as partes nebulosas de
nós mesmos através de algum trabalho terapêutico. Sob a perspectiva das
constelações familiares (nome derivado do inglês constellate, no sentido
de posicionar certos elementos numa dada configuração que torne a
questão mais clara aos olhos de todos), os nós ocultos que governam
nossas vidas, sedimentando padrões negativos, são chamados de
emaranhamentos. E podem ser desfeitos, um a um.
Segundo
o criador do método, o ex-padre e terapeuta alemão Bert Hellinger, que
completa 90 anos em dezembro, esses emaranhamentos acontecem quando
transgredimos três leis fundamentais dos relacionamentos humanos
bagunçando a ordem do amor. São elas: precedência – sempre respeitar
quem chegou primeiro (pais são maiores que fi lhos, inclusive quando os
progenitores se tornam idosos. Nesse caso, os filhos permanecem menores,
mas, ao mesmo tempo, precisam atender as necessidades dos pais com zelo
e humildade); pertencimento – todos devem se sentir parte do sistema
(ao invés de evitar o convívio com algum parente porque destoam de nosso
estilo de vida, é importante incluí-lo); equilíbrio entre dar e receber
(num casal, por exemplo, ambos devem nutrir a relação com cuidados e
valorização recíprocos). Encontrar obstruções desses tipos no histórico
familiar e trazê-las à consciência, reposicionando algumas atitudes, é o
objetivo do método terapêutico.
Para que o
conteúdo inconsciente se revele, no entanto, é preciso que uma teia de
relacionamentos fique explícita. Na terapia das constelações familiares
funciona assim: um facilitador, em geral, terapeuta, conduz a história
de um cliente dentro de workshops onde se realizam várias constelações
(mecanismo que joga luz naquelas situações mais emaranhadas da vida de
cada um). Depois de contar o que a trouxe ali e de responder perguntas
preliminares sobre seu contexto familiar, a pessoa escolhe entre os
presentes no grupo aquele que irá representá-la, bem como seus entes
queridos. E passa a observar a encenação (a técnica se diferencia do
psicodrama porque os participantes não se manifestam livremente, apenas
quando indagados pelo facilitador. Além disso, a compreensão do pano de
fundo das dinâmicas familiares se baseia exclusivamente nas três leis do
amor).
Os representantes respondem, como se
fossem os personagens em questão, a perguntas simples do facilitador.
Exemplo: “Seus pais estão casados a muito tempo?”. E são convidados a
dizer, de tempos em tempos, como estão se sentindo – se desejam rir,
chorar, fazer algum movimento, se sentem dor em alguma parte do corpo
etc. O surpreendente é que, na maioria das vezes, falas, sentimentos e
gestos ali externados por pessoas completamente desconhecidas do
constelante (a pessoa que tem uma questão para resolver) coincidem com o
jeito de ser dos entes a quem se referem.
A
posição dos representantes no espaço, bem como seus sentimentos e
impulsos, dão pistas preciosas. “É como se eu fosse juntando as peças de
um quebra-cabeça, guiada por hipóteses que vão se confirmando até
chegar ao ponto central do emaranhamento”, compara a paulista Maria
Izabel Rodrigues, psicoterapeuta, consultora organizacional e
ministrante de cursos de formação e workshops em São Paulo e no Rio de
Janeiro.
De
acordo com a teoria de Hellinger, o que acontece com um membro da
família inevitavelmente afeta os demais porque todos integram a mesma
rede. A dificuldade de um se reflete no outro, assim como potenciais e
virtudes. Por exemplo: uma pessoa fica estagnada em solidariedade a um
parente que padeceu da mesma forma no passado. “É como se disséssemos:
‘Por amor a você, ficarei triste, doente ou fracassarei’. Como se
quiséssemos assumir o fardo no lugar da pessoa”, explica o médico Décio
Fábio de Oliveira Júnior, cofundador do Instituto Bert Hellinger Brasil
Central (IBHBC) ao lado da esposa Wilma Oliveira.
Isso
ocorre porque temos a tendência a fazer pactos inconscientes com nossos
antepassados, mesmo os mais distantes, nos identificando com suas dores
e tentando, de alguma forma, expiá-las. Por isso, muitos repetem
comportamentos destrutivos. Também são recorrentes tentativas de
compensações motivadas pela culpa por alguma falta que acreditamos ter
cometido. É o caso de um fi lho que se sente responsável pela tristeza
da mãe e que se cobra soluções que estão muito além do seu alcance. Em
ambos os casos, o problema de fundo é uma percepção distorcida da
realidade. Uma vez identificado o nó, é hora de desconfundir as coisas,
desmisturá-las. E de repactuar consigo mesmo algumas atitudes.
O
facilitador, então, pede aos representantes que repitam frases de cura,
que inspiram aceitação e gratidão por tudo o que se recebeu, do jeito
que foi possível. Costuma-se dizer: “Sinto muito por não ter dado o que
você precisava receber, mas isso não tem nada a ver com o meu amor por
você, e sim com as minhas dificuldades”. Ou ainda, “Eu sou a fi lha e
você é o pai, eu sou pequena e você é grande” (muitos são os pais e fi
lhos que invertem papéis e sofrem por isso. Quando esse desequilíbrio
hierárquico se revela, o facilitador pede que o constelante se sente num
banco e fi que mais baixo do que seus progenitores para poder
incorporar física e simbolicamente seu lugar na família.). “Após esses
dizeres, a sensação de harmonia no sistema é intensa”, garante Maria
Izabel. Não raro, algo que a pessoa jamais cogitou como causa do seu nó,
emerge. A essa altura, o cliente é convidado a tomar o lugar do seu
representante a fi m de sentir o campo harmonizado e absorver a força
dele emanada (confira mais abaixo).
O fenômeno tem explicação:
Você deve estar se perguntando: “Como alguém que desconhece o
constelante e sua família pode fazer gestos e dizer coisas como se fosse
a pessoa representada?”. Ou então: “Como eventos vividos por
antepassados longínquos podem influenciar nossa vida aqui e agora?”.
Ambos os fenômenos se explicam com a ajuda de duas teorias. A primeira é
a Teoria dos Campos Morfogenéticos, formulada pelo biólogo inglês
Rupert Sheldrake, autor de Ciência sem Dogma (ed. Cultrix). O
pesquisador descobriu que há uma inteligência que precede a nossa
existência física e que se manifesta de maneira sutil, com forte
tendência a repetir aquilo que acontece com maior frequência. “Cada vez
que ocorre a repetição de um fato, esse campo aumentaria a força e a
probabilidade de determinado evento ocorrer nas gerações seguintes”, diz
Maria Izabel. Uma segunda explicação parte da epigenética, ciência que
estuda a ação do meio ambiente e dos pensamentos sobre a biologia.
Referência nessa área, o biólogo norte-americano Bruce Lipton, autor de
Biologia da Crença (ed. Butterfl y), descobriu a existência de
nanorradares em nossas células. Segundo o estudioso, essa microantenas
captam os conteúdos da esfera inconsciente, permitindo que dados
aparentemente misteriosos alcancem a consciência.
Quando
desvelados e harmonizados, os fi os embaraçados das histórias dão lugar
a percepções mais lúcidas dos acontecimentos, que, por sua vez, são
acompanhadas de atitudes de respeito, aceitação, responsabilidade,
reverência e inclusão. “Não se trata de mágica. As constelações não
solucionam automaticamente todos os problemas. É preciso que a postura
do cliente se modifique a partir de uma reformulação que vem do
coração”, enfatiza Décio. A enfermeira paulista Ana Paula Mikulenas teve
o privilégio de experimentar essa possibilidade antes do falecimento do
seu pai. Os dois se reaproximaram quando ele adoeceu. “Meu pai não
recebeu da mãe tudo o que gostaria e acabou me colocando no lugar dela.
Então eu queria resolver tudo por ele. Após a constelação, reassumi a
posição de fi lha, atendo-me a esse papel, sem interferir diretamente
nas demandas do meu pai. Assim esse padrão foi gradativamente
desaparecendo”, diz ela, que, desde aquele momento, passou a viver de
forma mais leve e consciente. “Ao compreender as dificuldades de nossos
antepassados, passamos a sentir compaixão por eles, e desse sentimento
surge a aceitação das coisas como elas são, o que nos apazigua e abre
caminhos”, resume o empresário José Roberto Freitas, de São Paulo.
Depois de seu fi lho descobrir que era desacreditado por ele porque ele
também fora desacreditado por seu pai e este por seu avô, sua vida pôde
se refazer sobre bases de compreensão entre as gerações.
Já
o casal de administradores Renato e Renata Farias, também de São Paulo,
aceitou a indicação da médica homeopata da família, iniciada no método,
após sucessivas tentativas frustradas de gerar um fi lho. “Não tínhamos
mais opções. Então, chegamos de peito aberto ao procedimento”, conta
Renato. Três meses depois, bebê à vista. “Ficou claro que havia uma
interrupção do fluxo do amor entre meu sogro, um militar muito severo,
filho de um homem com dificuldade de demonstrar afeto, e meu marido. Na
constelação, essas relações puderam ser reparadas de alguma forma”,
avalia a esposa. Segundo Maria Izabel, que conduziu o processo,
inconscientemente, Renato temia reviver a história paterna com seu
descendente, e a gravidez não se consumava.
Intensa
e tocante, a experiência, na maioria das vezes, é bem assimilada pelas
pessoas. Mas há quem demande acompanhamento psicoterapêutico após a
constelação. A resposta à abordagem depende muito dos recursos internos e
do grau de autoconhecimento de cada um. O interessante é que quem
participa representando ou apenas assistindo também se beneficia. “A
motivação primordial é, em última análise, a mesma: a busca de elos
perdidos ou rompidos que precisam ser reatados”, observa o psicólogo e
terapeuta Reno Bonzon, francês radicado em Salvador, que recomenda a
escolha de facilitadores sérios e confiáveis, de preferência indicados
por pessoas que vivenciaram o processo e saíram satisfeitas.
Na
observação de Hellinger, os insights e as transformações decorrentes da
constelação se prolongam por até três anos. Por isso não é indicado
trabalhar a mesma questão num curto intervalo de tempo. Também é
possível aplicar a ferramenta no atendimento individual. Nesse caso,
utilizam-se bonecos ou outros elementos de ancoragem.
Por
sua eficácia, a constelação, que surgiu tendo a família como foco,
acabou sendo transposta para outros grupos humanos, ganhando o nome de
constelações sistêmicas. Hoje esse saber beneficia empresas, escolas e
até a Justiça. Para se ter uma ideia, uma multinacional recorreu ao
método para sondar quais chefias estavam alinhadas aos novos valores
instituídos e quais ainda apresentavam certa resistência.
Os
princípios cunhados por Hellinger também norteiam a relação entre
escola e pais. “Muitas questões relacionadas à aprendizagem e à
desarmonia no ambiente escolar estão ligadas a desordens das leis do
amor na rotina da escola”, afirma Hellen Vieira da Fonseca, consultora
educacional especializada em pedagogia sistêmica, de Taguatinga (DF).
Na
Justiça, o maior exemplo vem do juiz Sami Storch, atuante em Amargosa, a
235 km de Salvador. Segundo ele, que aplica a metodologia desde 2010,
pais em litígio acabam encontrando saídas pacíficas após dinâmicas que
levam ao reconhecimento da importância de cada membro da família. Frases
reparadoras como: “Você me fez ser mãe/pai, e por isso sempre será
importante na minha vida”; “Foi difícil para mim, mas reconheço que você
também teve dificuldades ao longo do nosso relacionamento” abrem os
canais da conciliação. E o caudaloso rio da vida volta a correr.
Publicado em Dezembro 2015 na Revista Bons Fluidos - Texto: Raphaela de Campos Mello - http://bonsfluidos.uol.com.br/noticias/capa/no-fluxo-do-coracao.phtml
Constelações Familiares e Judiciário: Reflexões Positivas
A conciliação no âmbito judicial se encontra instituída na legislação brasileira há bastante tempo, é aplicada nas causas cíveis em geral e, com maior ênfase, naquelas relativas à vara de família e nas de menor complexidade, sujeitas ao rito previsto na Lei nº 9.099/95; também para o tratamento relativo aos crimes de menor potencial ofensivo, a mesma lei prevê a composição civil dos danos como forma de resolver conflitos evitando-se a instauração de uma ação penal.
Não obstante, ainda é alto o índice de rejudicialização (ajuizamento de novos processos entre as mesmas partes, quando o término do processo anterior - por meio consensual ou não - foi insuficiente para harmonizar o relacionamento entre as partes); também na área criminal e na de infância e juventude, são elevados os índices de reincidência e a reiteração de questões conflituosas envolvendo as mesmas pessoas, famílias e comunidades.
Nesse cenário, e sem falar na sofrida demora de uma instrução processual, reconhece-se que o processo judicial tradicional não é suficiente para que o Judiciário cumpra sua missão de resolver as demandas que se lhe apresentam.
Impõem-se, então, outros métodos que ofereçam a possibilidade de tratamento dos conflitos de forma mais adequada. Hoje a legislação já admite e incentiva os chamados métodos adequados de solução de conflitos (MASCs), prevendo expressamente a mediação, a arbitragem e outros (art. 3º, §§ 2º e 3º), e o CNJ estabelece, como incumbência dos órgãos judiciários, oferecer mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, inclusive como forma de disseminar a cultura de pacificação social (Resolução nº 125/2010).
Além disso, a crise em que chegou a Justiça recentemente gerou, como efeito positivo, uma maior abertura para abordagens transdisciplinares, inovadoras e sistêmicas, desapegadas do legalismo estrito e das funções tradicionalmente reservadas ao magistrado. Nesse sentido, o CNJ editou aResolução Nº 225 de 31/05/2016, instituindo a Justiça Restaurativa, à qual cada vez mais juízes vêm se dedicando.
Nesse contexto é que os tribunais brasileiros vêm acolhendo e disseminando de forma exponencial as práticas de constelações familiares e de direito sistêmico, desde que as nossas primeiras experiências com palestras vivenciais, iniciadas na Bahia em outubro de 2012, começaram a mostrar impactos profundos e emocionantes, não só em relação às partes nos processos, mas também na postura e na vida de advogados, servidores e suas famílias.
Os resultados:
Na Vara de Família, as primeiras estatísticas mostraram soluções conciliatórias em índices superiores a 90% dos processos e as experiências mais recentes, outras comarcas pelo Brasil obtiveram resultados semelhantes.
Em casos de adolescentes envolvidos em atos infracionais, o índice de reincidência após um ano foi inferior a 15% - muito menor que o normalmente obtido com a mera aplicação de medidas socioeducativas tradicionais.
No aspecto qualitativo, os resultados são mais marcantes, quando vemos casos como o de um homem e uma mulher que, pelo conflito oriundo da separação do casal e após anos de litígios, geradores de 25 processos (incluindo ações de divórcio, guarda dos filhos, alimentos, execuções, denúncias criminais de fraude empresarial e de violência doméstica), participam de uma constelação e, poucos dias depois, realizam um acordo que põe fim a todos eles e agora se tratam como amigos; o caso de um homem, conhecido na cidade como baderneiro, frequentador da delegacia de polícia, réu em ação penal sob acusação de homicídio, que passa a frequentar as sessões de constelação no fórum e poucos meses depois deixa de perambular pelas ruas, começa a trabalhar e reaproxima-se da família; ou o de um adolescente acolhido numa instituição porque seus pais não puderam criá-lo e que, aos 17 anos sem ter encontrado uma família adotiva, envolvido com traficantes e tido como “caso perdido”, faz uma constelação e em seguida é acolhido numa família substituta, com sucesso, retomando os estudos e o bom convívio social.
As constelações familiares, criadas pelo alemão Bert Hellinger como uma abordagem terapêutica, hoje são reconhecidas como uma ciência dos relacionamentos humanos, utilizadas de diversas formas e em inúmeras áreas (como na educação, na assessoria empresarial, no marketing e na saúde). Através de seus muitos recursos, desde posturas, frases discretas e exercícios de visualização até a constelação propriamente dita (posicionamento de representantes das pessoas envolvidas em um conflito e de membros de suas famílias), as constelações permitem que venham à tona as dinâmicas ocultas que conduzem as pessoas a relacionamentos conflituosos e atos violentos, movidas pelos vínculos inconscientes com seus antepassados familiares.
Revelam-se, na constelação, as “ordens do amor” descobertas por Hellinger, que são leis sistêmicas que regem as relações e padrões inconscientes de comportamento. O conhecimento de tais leis sistêmicas nos conduz a uma nova visão a respeito da vida, do direito e de como as leis podem ser elaboradas e aplicadas de modo a trazerem paz às relações, liberando do conflito as pessoas envolvidas e facilitando soluções harmônicas e satisfatórias para todos os envolvidos - especialmente para os filhos, que então não mais estarão sujeitos ao mesmo “emaranhamento sistêmico” que determinou o padrão de conflito dos pais.
O conhecimento das ordens do amor permite a compreensão das dinâmicas dos conflitos e da violência de forma mais ampla, além das aparências, facilitando ao julgador e às partes em conflito adotarem, em cada caso, o posicionamento mais adequado à pacificação das relações envolvidas.
Essa abordagem pode ser utilizada como ferramenta de trabalho não apenas por juízes, mas também por mediadores, conciliadores, advogados, membros do Ministério Público e quaisquer profissionais cujo trabalho tenha como objetivo auxiliar as pessoas na solução de situações conflituosas. E o potencial disso fica evidente a partir do atual movimento de criação de Comissões de Direito Sistêmico, com grupos de estudo e prática, em inúmeras seccionais da OAB.
A constelação familiar é uma prática séria e profunda, que necessita de profissionais responsáveis e bem capacitados. O cuidado na seleção e capacitação dos profissionais é recomendável, como em qualquer profissão que lide com os relacionamentos e emoções humanas. Porém, os questionamentos e críticas se devem, principalmente, ao desconhecimento do que sejam as constelações, que não se confundem com psicoterapia ou religião.
Constelar um processo ou as partes não significa que estas tenham que expor qualquer intimidade, ou que o juiz vá se imiscuir em atividades próprias de um psicólogo. Pode-se fazer uma constelação sem uma única palavra, bem como tratar de temas delicados com constelação, em grupos, tocando em pontos sensíveis de várias pessoas sem falar de quem se trata e sem saber de qualquer detalhe relativo a fatos narrados nos autos.
Assim, achar que as constelações familiares se limitam a uma atividade profissional específica, semelhante a uma consultoria, sessão de coaching ou de terapia, demonstra desconhecimento da filosofia e da abordagem desenvolvida por Hellinger, e falar das constelações como se fossem uma mera técnica seria reduzir o seu significado e seu potencial.
Ao profissional dedicado ao direito sistêmico, fundamental é que se tenha internalizado em sua própria vida, alma e postura as ordens sistêmicas descobertas por Hellinger e que promovem a paz nos sistemas. É esta a alma do direito sistêmico.
É natural que alguns prefiram continuar com as mesmas tradicionais formas de operar o direito. É essa a postura mais conservadora e segura (principalmente para os próprios profissionais que resistem às adaptações e aprendizados que os novos tempos impõem). Estranho é esperar que das mesmas formas advenham resultados melhores que os já obtidos.
Aos que buscam sempre melhores práticas com vistas aos melhores resultados na resolução de conflitos, recomenda-se conhecer bem as constelações e o direito sistêmico.
Publicado em Julho 2018 na Carta Forense por Sami Storch: - http://www.cartaforense.com.br/m/conteudo/artigos/constelacao-familiares-e-judiciario-reflexoes-positivas/18232
Conheça a constelação
sistêmica, terapia que ganha cada vez mais adeptos.
Usada
no processo do próprio conhecimento e na solução de conflitos em diversas
áreas, seja pessoal, seja profissional, a constelação foi até adotada pelo SUS.
Às
vezes, não importa o quanto andamos, algo sempre nos puxa para trás. Um assunto
não resolvido, um problema que foi jogado para debaixo do tapete, um medo
irracional ou, até mesmo, uma dor sem explicação: tudo pode ser o emaranhamento
de uma vida entrelaçada. Ou de várias vidas. É assim que pensam os
consteladores sistêmicos, indivíduos que seguem uma linha filosófica espiritual
baseada nos ensinamentos do terapeuta alemão Bert Hellinger, que identificou
forças naturais que agem sobre as pessoas e podem interferir na trajetória
delas. Essas interferências, acredita, podem ter causas intrínsecas nas
gerações atuais ou até em encarnações passadas.
Na
teoria, o assunto é complexo. Mas, quando aplicado na prática, as coisas
simplificam, como garante Clarissa Vargas, 32 anos, que é taxativa: “A
constelação familiar mudou a minha vida”. A atriz e apresentadora da TV Escola
diz que a terapia a curou de dentro para fora, em um processo de
autoconhecimento. “Ainda estou na busca, mas aprendi que nascemos com memórias
celulares e em sistemas familiares, nos quais assumimos, muitas vezes, papéis
que não são os nossos”, simplifica.
A
psicóloga Luci Bernardes Barros é especialista em gestalt–terapia e atua na
área há 18 anos. Nos últimos seis, também tem se dedicado à constelação
sistêmica. Luci explica que se trata de uma terapia transformadora,
essencialmente vivencial e fortemente referenciada nas sensações corporais, no
sentir e no olhar. E vai além: a técnica mudou e ampliou muito sua prática e
postura clínica.
De
acordo com ela, é uma abordagem sistêmica e fenomenológica, que, em um único
encontro, pode vir a descortinar uma dinâmica muitas vezes oculta no sistema
familiar. “Não há lógica na constelação familiar, pois é uma filosofia
profunda, que atua num nível de alma”, completa.
Clarissa
Vargas garante que, em sua experiência com a constelação, aprendeu que o
essencial é ter gratidão e aceitação “para que os vínculos doentios possam se
desfazer de forma natural e energética, sem dor, apenas com sua permissão”. Ela
também percebeu, enquanto ouvinte de outras constelações, o quanto recorrer a
profissionais de qualidade faz toda diferença. “Percebo que os resultados podem
emergir com mais efetividade quando o profissional tem, antes de diplomas de
vários cursos aqui e acolá, verdadeira sensibilidade”, avalia.
Transformação
Para
Clarissa, vale a pena investir nesse processo de autoconhecimento, pois as transformações
na vida são gigantescas. “Não conheço outra terapia tão assertiva. Eu discutia
com minha mãe por tudo, não conseguia emprego que me pagasse o que eu sentisse
que merecia, não aceitava uma gravidez não planejada que tive e me sentia
deslocada, sendo brasiliense de família gaúcha. Hoje, minha relação com minha
mãe é de ampla admiração. Reconheço que a força feminina dela está em mim e,
sem isso, eu não teria o impulso interno que tenho de lutar pelas coisas”,
analisa.
A
psicóloga e doutora Adriana Barbosa, seguidora da escola psicanalítica de
Sigmund Freud, admira a técnica da constelação familiar, mas acredita que não
há nenhuma comprovação científica de que ela realmente funcione como uma
terapia tradicional. “Sou muito cética, mas ouço relatos de pessoas que
realmente se sentiram curadas com a constelação. Admiro o trabalho dos
terapeutas nessa área, mas, como digo, é algo alternativo, que, com certeza,
ajuda muito na busca do autoconhecimento, mas jamais deve tomar lugar da
genuína psicoterapia, do divã, das sessões com psicólogos formados”, acredita.
O criador
Antigo
padre e missionário junto aos zulus, na África do Sul, o alemão Bert Hellinger
é educador, psicanalista, terapeuta corporal, familiar e de grupos. Um homem
com muita sabedoria e experiência de vida, segundo seus seguidores. Como viveu
durante muitos anos em situações conflituosas, como soldado durante a Segunda
Guerra Mundial, e depois se tornou padre, essas experiências tiveram um
profundo efeito no desenvolvimento das constelações familiares. Bert Hellinger,
hoje com 92 anos, escreveu mais de 84 livros, traduzidos em 30 idiomas. O seu
trabalho está documentado em numerosos CDs e DVDs
Do trabalho ao lar
Poli
Halfeld, 59 anos, é proprietário de um salão de beleza que mudou muito. O lugar
não passou por reformas físicas, o dono não gastou um centavo com troca de
mobília, mas quem entrou no local depois das sessões de constelação feitas por
ele e seus funcionários percebeu transformações. “Quando cheguei ao trabalho,
depois da ser constelado, já senti um clima diferente, uma coisa muito
interessante. As pessoas estavam mais interessadas em trabalhar juntos em uma
proposta”, conta.
Tudo
começou quando Poli conheceu a constelação e viu nela a oportunidade de mudar
aspectos da vida que o incomodavam, começando por questões familiares. “Tenho
três irmãos e cada um de nós mora em um lugar do país. A gente raramente se
via, de vez em quando um aparecia na casa do outro, mas se reunir como família,
não”, explica.
Para
se conhecer melhor e entender os motivos dessa distância, ele fez uma sessão de
constelação familiar e, a partir daí, as atitudes que ele vinha tomando
começaram a ser melhor observadas. As escolhas foram analisadas e cada parente
passou a ter uma atenção especial de Poli. “Eu me sentia envergonhado de ter
sobrinhas já formadas que não conhecia. Isso é muita desconexão, porque são
filhas do meu irmão, que é um homem superquerido e adorado pelas pessoas, mas
eu não tinha essa conexão com ele.”
A
terapia foi um grande norte para mudar as relações do empresário, que começou a
ter aprendizados que inverteriam aquela situação. “A primeira coisa que aprendi
foi a não ficar lamentando o passado. É preciso reconhecer o que aconteceu, mas
seguir em frente, porque o passado não tem como mudar — nem se ficarmos
remoendo.”
As
diferenças do antes e do depois da constelação foram nítidas: “Nós já estamos
marcando o nosso terceiro encontro. Parece que minha família voltou a ter um
núcleo. Era cada um por si, muito desligados, principalmente eu, que me sentia desconectado”,
conta.
Após
ver todas essas ligações funcionarem, Poli passou a indicar a terapia a todos,
tanto que os funcionários do seu salão também tiveram a chance de viver a
experiência. “Depois da constelação empresarial que fizemos, tem uma coisa que
acontece que não sei explicar o que é — algo em nível energético —, que te faz
sentir conectado de novo. Eu sentia as pessoas divididas aqui no salão, hoje as
vejo mais integradas”, detalha.
Saúde pública
Em
março, o SUS reconheceu os benefícios da constelação familiar, colocando a
terapia como uma das Práticas Integrativas e Complementares (PICS) ofertadas
nas unidades de atendimento. A decisão é polêmica e vai além: em 2006, os cinco
primeiros procedimentos alternativos foram incluídos no PICS — acupuntura,
homeopatia, fitoterapia, antroposofia e termalismo —; em 2017, mais 14 práticas
entraram na lista; e em 2018, mais 10. Hoje, 29 recursos terapêuticos são
oferecidos em 9.350 estabelecimentos e 3.173 municípios. A relação completa
está no site do Ministério da Saúde.
Por dentro da sessão
Uma
constelação pode ser realizada em grupo ou individualmente. No método
individual, são utilizadas representações simbólicas, que podem ser bonecos,
cartas, almofadas, entre outros elementos. Nesse caso, explica Luci, ocorre uma
sinergia muito grande entre terapeuta e constelado, pois o processo e as
imagens internas de quem está sendo tratado podem ser atentamente acompanhados
pelo constelador, por meio da observação corporal, da expressão dos sentimentos
e das falas.
Já
quando a terapia é aplicada em grupo, deixam-se de lado esses elementos
representativos e são os participantes da sessão que simbolizam os laços
familiares e as situações de conflito. Ou seja, em vez de o constelado eleger,
por exemplo, uma carta, uma almofada ou um boneco que simbolize o pai, ele
escolhe um indivíduo do grupo para isso.
De
acordo com a filosofia que rege essas ações, nada disso é por acaso: o
escolhido pode nem conhecer o problema da pessoa que está sendo tratada, mas
vai viver ali situações importantes também para si. Assim, apesar de apenas um
indivíduo ser a constelado naquele grupo, os demais também vivem um processo
terapêutico.
Para
a psicóloga Luci Bernardes Barros, as duas formas de constelar são eficazes e
amorosas. Ela relata que, em ambas, cria-se um campo energético. Quando em
grupo, os participantes, em geral, não tem nenhum prévio conhecimento entre
eles nem sobre o assunto a ser trabalhado. Após compartilhar o tema com o
grupo, a pessoa a ser constelada escolhe representantes para si e para seus
familiares. Os representantes conseguem acessar informações inconscientes de
cada elemento ou familiar representado.
O
campo familiar que é acessado numa constelação pode ser comparado a uma
consciência que contém todos os dados relevantes daquela família. Todos os
representantes e participantes são influenciados, neste momento, por esse
campo, independentemente de vontade ou escolha, segundo relata Luci Bernardes.
Campo energético
O
cientista inglês Rupert Sheldrake denomina este campo de morfogenético. Assim,
quem representa uma pessoa entra em contato com a história dela. Ele afirma que
o campo sistêmico é muito poderoso, todos se beneficiam e entram em movimento
de cura. A psicóloga esclarece, ainda, que a constelação é um método isento de
crenças religiosas ou de quaisquer experiências místicas ou sobrenaturais. “A
vivência não substitui nenhum tratamento médico ou psicológico, mas os complementa”,
adverte Luci Bernardes.
Ela
salienta que essa terapia pode ser capaz de liberar sentimentos dolorosos que
marcaram um comportamento familiar e que podem estar atraindo outros membros
para uma repetição em gerações posteriores. “Muitas vezes, um neto ou bisneto
poderá, por amor, repetir, de forma inconsciente, esse destino”, reflete. Na
opinião da psicóloga, a constelação não dá respostas, mas ajuda as pessoas a
olharem para questões importantes que, muitas vezes, podem estar bloqueando o
fluxo de amor em suas vidas.
O
interessante, para a consteladora, é que o método revela as ordens do amor que
precisam ser respeitadas, para que os padrões doentios não se repitam. Essas
ordens referem-se a três princípios norteadores — pertencimento, equilíbrio e
hierarquia. “Segundo Bert Hellinger, o amor é a maior força da existência. O
fluxo do amor é interrompido, principalmente, com o julgamento e o desrespeito.
Todo desrespeito gera desordem e desarmonia”, completa Luci Bernardes.
Sintomas da desordem
Os
estudos da constelação dizem que existem ordens que regem as interações
familiares: cada membro tem seu papel e suas atribuições dentro desse sistema,
mas Larissa Oliveira, 30 anos, era uma das pessoas que não sabia disso. Como
não teve a presença paterna dentro de casa, a secretária parlamentar acabou
pegando para si responsabilidades e atribuições que não eram dela e descobriu
que quem carrega muito peso, uma hora, sente as dores.
“Comecei
com a acupuntura para resolver uma dor nas costas. Também vinha me tratando com
reiki. A minha terapeuta reikiana disse que seria legal fazer uma constelação
familiar. Eu fui com o intuito de descobrir por que eu adoecia a toda hora.”
A
cada sessão, Larissa ia descobrindo os motivos das disfunções do corpo,
relacionados a problemas de desordem na família. Ela passou a observar melhor
suas atitudes, seu jeito de se portar diante das situações e sua posição nos
conflitos, o que a fez perceber que a frieza da racionalidade nem sempre é a
melhor opção. “Hoje, vejo que tem mais coração em tudo o que faço, consigo
olhar para as coisas com mais sentimento, que antes eu bloqueava muito. Por
precisar ter sido a pessoa forte da família a vida toda, que resolvia tudo, eu
me tornei muito prática, mas com pouco sentimento”, conta.
Esse
autoconhecimento construído na constelação foi fundamental na vida da
secretária, que se tornou outra pessoa sem os pesos que carregava. “As pessoas
ao meu redor viram muita diferença em mim. Mais serenidade, tranquilidade,
encarando tudo com mais leveza”, lembra. Com a ordem familiar estabelecida,
Larissa conseguiu se livrar das dores que a levaram para sua primeira sessão,
mas não pode falar que terminou a terapia sem sentir nada, pois foi justamente
o fato de conseguir sentir mais que a transformou.
“Começar
a ter mais sentimento é assustador em um primeiro momento. O processo de se
conhecer traz muitas descobertas, então, nesse começo, a gente pensa: ‘Mas eu
nunca senti isso, por que isso está acontecendo?’ E agora vejo o quanto isso é
bom, porque a gente passa a fazer as coisas com o coração.”
Capacitação
Não
existe uma só formação possível para se tornar um constelador, mas tem surgido
no Brasil uma organização cada vez maior na área, com aproximações científicas.
É isso que explica Miriam Coelho Braga, consultora organizacional e terapeuta
corporal. “Existem muitos treinamentos e informações. Eu, por exemplo, coordeno
um curso de pós-graduação em constelações, o primeiro do Brasil a nível
acadêmico. Esse é um conhecimento que o profissional precisa, porque ele dá
sustentação teórica na ciência, bases práticas e, sobretudo, uma ética”,
justifica. A experiência de Miriam mostra que o caminho é sempre se
profissionalizar ao máximo para essa área, já que ela envolve os mais profundos
sentimentos e sentidos dos clientes. “É algo sensível, porque o cliente pode
surtar se não tiver um profissional capacitado com ele.”
Mediando vidas
Elisângela
Barbosa, 44 anos, estava divida entre qual rumo tomar: se seguia a carreira
profissional ou a abandonava para se dedicar exclusivamente a fazer
constelações. No meio desse dilema, uma desconhecida foi quem a ajudou na decisão:
“Eu estava andando na rua com aquele pensamento e, de repente, apareceu ao meu
lado uma mulher que eu nunca tinha visto, com aparência de cigana, me tocou o
ombro e me ofereceu uma flor — metade das pétalas era laranja e a outra metade
vermelha. Então, a moça me falou: ‘Continue nos dois caminhos’. E seguiu
andando”, conta.
Foi
assim que a consteladora conseguiu aliar ambos os trabalhos e vivências para
ajudar em processos familiares, individuais e até empresariais. “A vida foi me
levando para um caminho holístico porque, ao mesmo tempo em que atuava como
assistente social e psicopedagoga, eu tinha as dores familiares da ausência do
meu pai, da força da minha mãe em precisar dizer que ele nos abandonou... E
todas essas dores, me levaram a chegar até a constelação.”
Fazendo
essa terapia há cinco anos, Elisângela já ajudou gente com os mais diversos
problemas. Marcam sessões com ela pessoas que querem entender a depressão, as
doenças físicas, as relações com membros da família e até a dificuldade de andar
de bicicleta ou dirigir. Os métodos são complexos e envolvem as teorias de Bert
Hellinger, mas, na prática, tudo flui em harmonia para que se alcance o tema de
quem participa.
Elisângela
trabalha os dois métodos. “Faço a constelação individual — com os bonecos — e
em grupo — com pessoas”, explica. Mas, para ela, o segundo é mais interessante
por sempre reunir pessoas com dificuldades comuns, mesmo que os presentes no
dia não se conheçam: “Quando começo a montar a cena da constelação, chegam
pontos de dores e sentimentos das emoções de todo mundo presente.”
Guia
Embasada
em todos os conhecimentos sobre as teorias da constelação que adquiriu nesses
anos, Elisângela explica que seu trabalho é apenas guiar a pessoa constelada,
mas isso exige a sensibilidade de observar mais do que ela percebe. “Sou apenas
uma mediadora na constelação, faço uma leitura que está no inconsciente dela a
partir da cena que ela mesma me trouxe”, detalha. O que acontece a partir daí,
garante, vai depender de cada caso, todos devidamente explicados pelas ordens
do amor e suas leis do pertencer, do dar e receber e da hierarquia.
“Bert
Hellinger descobriu que existe uma memória sistêmica familiar e, quando algo
não é resolvido lá atrás, algum membro para a frente vai tentar resolver. Vamos
dizer que a mãe se separou do pai e ele foi excluído. Pelas leis que Bert
construiu, ninguém pode ser excluído. Então, se ele foi, alguém para a frente
vai tentar incluir esse homem de alguma maneira. E a forma mais prática que a
alma da pessoa vê para incluir esse membro é copiando comportamentos dele, de forma
inconsciente.”
Visão Sistêmica
Cada
pessoa reage de uma forma diferente diante do novo e do desconhecido. Há, por
exemplo, aqueles que só querem distância — talvez por medo ou insegurança —,
aqueles que entram de cabeça para saber do que se trata — com uma curiosidade
aguçada —, e os que desdenham, mas não abrem mão de conhecer melhor aquele
universo, como Cláudio de Jesus, 45 anos.
O
advogado não acreditava muito nas transformações da constelação que tanto lhe
falavam, mas também não se fechou a ponto de não querer saber daquilo. Quando
uma amiga que tinha feito essa terapia o chamou para uma sessão em grupo, ele
foi com a cabeça aberta e presenciou de corpo e alma aquelas energias.
“Fui
chamado para integrar o desenho da constelação de uma pessoa. Então, entrei
para o grupo familiar dela e assumi o papel de um indivíduo que não gostava
dela — mas eu não sabia disso. Ela me posicionou ao lado da pessoa que a
representava na constelação e meu braço, imediatamente, ficou dormente. A
partir daí, minha descrença caiu por terra.”
Essa
primeira experiência fez com que Cláudio compreendesse a terapia na prática —
coisa que, a partir dali, foi sendo levada adiante por ele em sua vida e em seu
escritório. “Eu comecei a ficar curioso e a participar de várias constelações.
Muita coisa mudou, porque aprendi a interpretar as relações. Recentemente,
atendi um pai que estava tendo problema com a filha, que, para mim, era uma
questão constelar. A orientação que dei me dispensou como advogado, mas ele
saiu extremamente agradecido e emocionado”, relata.
A
constelação, de fato, tem sido aplicada com frequência no campo da advocacia,
inclusive com juízes usando-a para ajudar os envolvidos nos casos a compreenderem
os motivos dos seus conflitos e a pensarem em alternativas. Mas isso não é
novidade para Cláudio. “Estão falando muito agora sobre o direito sistêmico,
mas eu sempre fiz isso, só não sabia que era constelação. Sempre achei que as
relações no direito de família, por exemplo, são frutos de um problema de
constelação familiar. As pessoas se aproximam e se distanciam, mas precisam
entender o porquê disso.”
A serviço da Justiça
Se
existe uma terapia que busca solucionar conflitos familiares, por que não
aplicá-la na advocacia? Essa pergunta foi feita por vários advogados e juízes,
como o criador da expressão, o juiz baiano Sami Storch, que enxergou nos
tribunais e escritórios uns dos lugares mais propícios para implementar essa
técnica, como explica Luciana Pereira da Silva, advogada atuante no direito de
família. “Começou a se perceber que usar mecanismos paralelos pode ajudar no
encerramento de demandas judiciais, evitando maiores traumas para as partes
envolvidas, especialmente no direito de família. A utilização dessa técnica
passou a se oficializar em alguns tribunais, reduzindo drasticamente o número
de processos em que não se chegava a um acordo. Aqui em Brasília, o TJDFT
divulgou em 2016 oficialmente a utilização das constelações familiares para
resolução dos conflitos processuais que estavam sob sua competência. E, no ano
seguinte, apontou o número de acordos em 61% dos casos”, explica Luciana.
Publicado
em Julho 2018 na Revista Correio Brasiliense - Por Alan Rios e Tatiana Sócrates:https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/revista/2018/07/01/interna_revista_correio,691633/constelacao-sistemica-ganha-cada-vez-mais-adeptos.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário